No dia 24 de agosto de 1954, morria o presidente Getúlio Vargas. Acompanhando a transferência de seu corpo estava João Goulart, que além de levar a carta testamento de Vargas trazia consigo sua herança política. Sobre esse assunto, sugerimos a leitura do livro "A Janga do Sul: Getúlio, Jango e Brizola" do autor Gilberto Felisberto Vasconcelos.
“Fomentador de greves, articulador da luta de classes e inimigo do capitalismo”, Jango apresentava raízes nacionalistas e um extremo senso de Justiça social, como pode ser verificado ao analisarmos alguns trechos de seus mais famosos discursos:
"Hoje, com o alto testemunho da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao povo pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo pertence, reafirma os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela reforma da sociedade brasileira. Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil" (Discurso da Central do Brasil).
No auge da guerra fria e da histeria anti-comunista, ser nacionalista e apresentar a intenção de governar em prol das classes trabalhadoras já era o suficiente para ser enquadrado como Comunista. E justamente pelo receio de uma ‘’esquerdização’’ do país e seguidas reformas de base, a burguesia nacional-periférica brasileira articulou-se e tentou impedir a posse de Jango.
Essa tentativa de golpe foi bravamente enfrentada por Brizola na “Campanha da Legalidade”. Empunhando em uma das mãos uma metralhadora e na outra um microfone, Brizola passa a transmitir e idealizar discursos contra os golpistas e em prol da legalidade do governo de Jango. Frente a mobilização popular, Jango toma posse exaltando essa articulação e direcionando seu governo em prol dessa classes:
“Souberam Vossas Excelências resguardar, com firmeza e sabedoria, o exercício e a defesa mesma do mandato que a Nação lhes confiou. Cumpre-nos, agora, mandatários do povo, fiéis ao preceito básico de que todo o poder dele emana, devolver a palavra e a decisão à vontade popular que nos manda e que nos julga, para que ela própria dê seu referendum supremo às decisões políticas que em seu nome estamos solenemente assumindo neste instante” (Discurso de posse do Presidente João Goulart).
Para mais detalhes sobre o governo de João Goulart, sugerimos o documentário feito por Silvio Tendler, disponível no Youtube na íntegra:
Mas bem, porque Jango foi deposto? Dentre as diversas discussões historiográficas sobre o período, a melhor resposta é: Jango efetuaria uma nova independência do Brasil, colocando o progresso do País junto ao povo.
As elites brasileiras não aceitavam que um líder de massas tocasse a frente um projeto de nação menos desigual e com o desenvolvimento do trabalho em detrimento ao capital. A direita então percebeu que as reformas estruturais propostas por Jango levariam a uma contradição irreconciliável com o modo de produção que os colocavam no topo da pirâmide.
A campanha subterrânea dos grupos internacionais, que acreditavam e temiam a possibilidade do Brasil viram uma “Nova Cuba” aliou-se à mobilização das elites nacionais-periféricas. A lei de lucros extraordinários foi detida no congresso. Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. A Petrobras sofre com ondas de agitações. Estava montado o cenário. Essa articulação internacional feita pelos Estados Unidos ficará mais clara ao assistirmos o documentário dirigido por Camilo Galli, também disponível no Youtube, "O dia que durou 21 anos".
Após dez anos da tentativa de golpe e o suicídio de Getulio, as elites brasileiras em concluio com o imperialismo voltaram a depor um presidente. Aquele momento, em 1964, a situação, para elas, estava insustentável. O Comício da Central e as reformas de base tencionariam, de vez, o capitalismo dependente brasileiro. Nesse sentido, golpear o projeto nacionalista se fazia mais do que necessário pela direita Brasileira. A favor do golpe uniram-se os políticos da elite, militares conservadores e o imperialismo. Lembrar-se de João Goulart é deixar claro quem foram seus inimigos, os arquitetos da Ditadura, que ainda estão no poder em nosso Brasil. Que nunca foram retirados do poder econômico da nossa nação e que impedem qualquer mudança política em nosso Brasil.
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