sábado, 8 de março de 2014

#SemanadeLutadasMulheres - Apresentação



“Semana de Luta das Mulheres” do CAHIS
De 8 a 14 de março de 2014

O dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é um dia de luta. Não deveria ser mais uma das tantas datas comerciais presentes no nosso calendário, onde achamos que o objetivo é apenas agradar de forma material as mulheres as quais fazem parte das nossas vidas e que nós tanto admiramos. Esse dia simboliza a luta incessante das mulheres por direitos, por igualdade de oportunidades e condições de vida, saúde, estudo e emprego. Hoje é um dia importante para lembrar a difícil jornada que nós, mulheres, realizamos desde o momento em que somos identificadas como tal. Importante para lembrar que ainda há muita coisa errada, muita coisa a ser modificada, muitos preconceitos e estereótipos a serem desconstruídos.

Um dia importante para lembrar que muitas conquistas foram sim alcançadas: mulheres podem votar, mulheres estão inseridas no mercado de trabalho, mulheres podem lutar por sua independência financeira, mulheres podem escolher entre serem mães ou não, podem escolher casarem ou não. No entanto, todas as mulheres tem essas liberdades? Ou essas liberdades são a realidade de apenas algumas mulheres? Até que ponto essas escolhas podem ser feitas? Que tipo de julgamento recai sobre as mulheres quando as realizam?

Uma data que é importante para lembrar que ainda hoje muitas meninas são obrigadas a casarem jovens, contra sua vontade, sem seu consentimento e escolha. Importante para lembrar que muitas mulheres ainda são espancadas por seus pais, maridos, tios, irmãos, namorados. Que muitas mulheres ainda são assediadas ao andarem o caminho de casa para o trabalho, para a escola, para a faculdade. Muitas mulheres ainda realizam jornada tripla ao serem mães, donas de casa e ao trabalharem fora. Muitas mulheres são estupradas nas ruas, nas baladas, e dentro de seu próprio lar.

Ainda hoje, no Brasil, mulheres são presas por realizarem abortos, não tem direito de escolha e poder de decisão sobre seus próprios corpos. Mulheres morrem por não terem acesso à prática segura e pública do aborto. Mulheres engravidam ainda muito novas e ainda na infância ou na adolescência se deparam com a responsabilidade de criar e educar outro indivíduo que está na praticamente mesma fase que ela.

Ainda hoje mulheres são silenciadas em todos os espaços, ainda hoje mulheres são objetificadas nos meios de comunicação, em propagandas de cerveja, lingerie, carros, entre outros. Ainda hoje mulheres são equiparadas a mercadorias dispostas numa prateleira para o desfrute dos homens. Ainda hoje vivemos numa cultura que prefere julgar, condenar, humilhar e “apedrejar” uma mulher que é estuprada, uma mulher que vive sua sexualidade de forma “livre”, uma mulher que escolhe vestir-se da maneira que mais lhe agrada. A mulher é agredida, tem sua individualidade e privacidade violada por homens sob a justificativa de que sua “natureza” e “instinto masculino” o compeliu a tal ato de agressão.

Ainda hoje mulheres negras são excluídas de todos os meios, tem sua representatividade reduzida a entretenimento em épocas festivas. Ainda hoje mulheres negras são associadas a promiscuidade, falta de higiene, ainda hoje seus cabelos são classificados como algo de “má qualidade”, ainda hoje são tratadas como objetos descartáveis à disposição de homens.

Ainda hoje mulheres trans* têm sua identidade de gênero questionada, desrespeitada, rechaçada e satirizada pela mídia e pela sociedade. Ainda hoje mulheres lésbicas são tratadas como fetiche sexual a serviço dos homens. Ainda hoje, essas mesmas mulheres sofrem com a prática absurda do “estupro corretivo”.

Ainda hoje mulheres gordas são vítimas de piadas, tratadas como seres repulsivos, horrendos que jamais serão felizes por não agradarem homens e serem “escolhidas” como suas namoradas, a serem apresentadas como uma espécie de troféu para os amigos e para a família. Ainda hoje mulheres são vistas dessa forma: como troféus a serem exibidos.

Ainda hoje meninas são ensinadas a corresponderem aos padrões de gênero que determinam que a mulher deve ser delicada, frágil, fútil, submissa, deve cuidar da casa, deve comportar-se como uma “dama”, deve agir sempre buscando aprovação e olhares masculinos, deve estar em constante competição com outras mulheres, são estimuladas a colocar-se numa posição de rivalidade com outras meninas, à julgá-las, à condená-las por resistirem aos padrões comportamentais e estéticos impostos. Muitas vezes sem se darem conta de que toda essa opressão que reproduzem contra outras mulheres são reproduzidas também contra elas mesmas. São inúmeras as formas de opressão que, ainda hoje, recaem sobre todas nós, mulheres. Opressões diferentes, mas todas nocivas, violentas e cruéis. E ainda hoje muitas pessoas não conseguem enxerga-las.

E é por isso que hoje, dia 8 de março de 2014, Dia Internacional da Mulher, não é, para nós, mulheres do CAHIS-UERJ, um dia de receber presentes e congratulações, mas sim um dia de luta. Um dia sim, para lembrar tudo o que já conquistamos, mas mais ainda, lembrar de tudo o que ainda temos a conquistar.

Um dia para lembrarmos que unidas somos mais fortes e que se mexer com uma mexeu com todas. Um dia para espalharmos sororidade, essa solidariedade entre mulheres tão necessária e tão resistente à uma sociedade que apenas nos estimula a lutar umas contra as outras para tomar nossos próprios espaços e marginalizar nossas próprias irmãs.  Um dia para lembrarmos que o feminismo deve ser intersecional, deve abranger todas as diferentes mulheres, deve unir todas essas mulheres tão plurais e tão únicas que tem uma força enorme que precisa ser descoberta e redescoberta todos os dias.  

Sendo assim, nós, mulheres do CAHIS-UERJ, damos abertura a “Semana de Lutas das Mulheres” nas nossas mídias sociais. De hoje, dia 8 de março, até o dia 14, dividiremos todo material que nos faz pensar no “ser mulher”, das mais variadas formas possíveis, com toda a pluralidade já citada. Vídeos, filmes, textos. Tudo compartilhado em prol da nossa libertação. Uma semana para empoderar todas e lembrar que, como disse Audre Lorde: 

"Eu não serei livre enquanto houver mulheres que não são, mesmo que suas algemas sejam muito diferentes das minhas.".

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