domingo, 16 de março de 2014

Opinião: Sobre o trote


No início de todo ano letivo das mais diversas universidades do país, seja ela pública ou privada, acontece uma prática muito comum, ora perigosa ora até inofensiva, que em determinados momentos ganha destaque na mídia, o trote, prática recorrente desde os tempos da Idade Média europeia, já há algum tempo vem trazendo dores de cabeça e divergências tanto para os estudantes universitários, professores e órgãos da administração universitária.

Comumente justifica-se a prática do trote como uma “iniciação”, “um rito de passagem” do calouro que está entrando num determinado curso da universidade e saindo do ensino médio, ou também uma forma de socialização entre os calouros e os veteranos do curso. O calouro que está entrando na universidade “em tese” através do trote, poderia se socializar e conhecer seus veteranos e os mais diversos espaços da universidade, sendo assim se integrando ao espaço universitário.

Essa lógica seria muito bonita se não ficasse apenas na teoria, o que acontece muitas vezes na realidade são práticas degradantes, desmoralizadoras e violentas, sem contar que em grande parte dos trotes existe claramente a prática do machismo, da homofobia, do racismo e do preconceito de classe. É verdade também que existem “trotes” mais “elaborados” e com um objetivo de uma real introdução na comunidade, como por exemplo o trote social, onde veteranos e calouros praticam alguma ação positiva, como doar sangue, limpar a redondeza, etc, recentemente teve até o episódio de pintura corporal, onde veteranos pintavam verdadeiras obras de arte nos calouros.

Não obstante, as práticas degradantes acontecem em geral de forma muito recorrente, como por exemplo, na UFMG, em 2013, onde veteranos do curso de direito pintaram os calouros de preto e os amarravam com uma plaquinha, com o nome de “escravo do veterano x”, mostrando claramente um racismo embutido no trote. Quem nunca ouviu falar de trotes machistas e misóginos, como exemplo fazer com que calouras fingirem que estão praticando sexo oral em algum objeto, ou mesmo fazendo perguntas de cunho privado em público. Como também podemos ver práticas de homofobia, muitas vezes pelo fato do calouro ser gay, sofrer certa discriminação. Esses exemplos fatídicos estão aí para qualquer um ver, basta pesquisar e observar todo inicio de ano letivo. Muitos podem afirmar que o trote é opcional, ninguém é obrigado a fazer, todavia temos que entender que os calouros de certa forma se sentem “coagidos” a participarem, pensam que serão excluídos ou mal vistos, e acabam participando do trote.

Temos que defender sim a integração dos novos alunos dentro da comunidade universitária, mas de forma sadia e inteligente, como elaborando palestras, conversas, até mesmos festas, nada que possa constranger o calouro. E temos sim de combater todas as práticas machistas, homofóbicas e racistas dentro da universidade, lembrando que uma “simples” brincadeira carrega uma carga ideológica muito grande. Ademais, podemos e devemos contribuir para uma universidade melhor e mais participativa.

Sejam bem-vindxs, calourxs de 2014!

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