Sétimo e último dia da #SemanadeLutadasMulheres do CAHIS.
Finalizaremos nossa semana falando sobre Cultura do Estupro e a Importância da Sororidade.
Ao longo da semana, falamos sobre diversos assuntos: a
intersecionalidade no feminismo, o feminismo negro, as mulheres indígenas, as
trans* mulheres e o feminismo lésbico. Optamos por deixar para o último dia um
dos assuntos mais complicados de serem trabalhados: a cultura do estupro e seus
efeitos sobre o dia-a-dia das mulheres.
Como nos limita, nos violenta, nos segrega e nos dá regras e mais regras
a serem seguidas.
Por que esse assunto é tão complicado? Porque a vivência é o
que faz ver e sentir essa cultura dentro da nossa sociedade. E para vivenciar,
você precisa ser mulher. Mas, você sabe o que é cultura do estupro?
“Estou falando de uma construção cultural nojenta, destrutiva, que encoraja as mulheres a culparem a vítima, a se odiarem, a se culparem, a se responsabilizarem pelo comportamento criminoso dos outros, a temerem seus próprios desejos e a desconfiarem dos seus próprios instintos” - Lisa Jervis, sobre a Cultura do Estupro, no livro “Yes Means Yes” de Jessica Valenti e Jaclyn Friedman
Essa frase, de Lisa Jervis, nos da um panorama sobre o que seria a tal cultura do estupro. Mas para entender melhor, separamos alguns artigos e vídeos.
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Para explicar um pouco, indicamos um post que foi feito originalmente no site americano BuzzFeed ("What Is Rape Culture?") e posteriormente foi comentado por Vanessa Fogaça Prateano no site Gazeta do Povo ("Você sabe o que é a cultura do estupro?"). Ambos apresentam os sinais da cultura do estupro na nossa sociedade, como achar que "não" quer dizer "sim", culpabilizar as vítimas de estupro praticar o "slut-shamming", criar regras de conduta para "prevenir" estupros e ensinar mulheres a não serem estupradas (como mostramos na nossa imagem de capa). Vale a leitura, bem simples e objetiva.
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Com a expansão dos meios de comunicação a popularização das mídias sociais, infelizmente a internet, como reflexo da sociedade em que vivemos, tornou-se também um meio de perpetuação da cultura do estupro. O texto de Carol Patrocínio "Cultura do estupro, medidas paliativas do governo e as redes sociais como espelho da sociedade" para o Yahoo mulher aborda justamente esse assunto, demonstrando a presença do estupro não só nas redes sociais, mas na mídia como um todo, através de propagandas como esta, do Governo egípcio:
"A cultura do estupro se dá quando a mídia, por exemplo, exibe anúncios em que mulheres são violentadas como se isso fosse algo normal. O site Business Insider lista, regularmente, anúncios que estimulam ou desqualificam a violência contra a mulher. Em um deles, do governo do Egito, representa a mulher por meio de um pirulito com plástico e outro sem, sendo atacado por moscas (representando o homem), com a seguinte frase: 'Você não pode parar (as moscas), mas pode proteger-se'" - Carol Patrocínio
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Mais dois textos sobre a cultura do estupro: um, da Revista Fórum, "Sobre a cultura do Estupro", fala sobre relações de poder e papéis de gênero reforçados pela cultura do estupro, além de comentar o combate a mesma. O outro, do site Cem Homens, por Letícia F., "Minha própria inércia diante da cultura do estupro", trata como o próprio título indica, de uma revisão, feita pela própria autora, sobre todas as vezes que a mesma silenciou-se diante das agressões provenientes da cultura do estupro. Ambos importantes para demonstrar a presença e os sinais dessa cultura em nosso dia-a-dia e como para combatê-la, precisamos, antes de tudo, percebê-la.
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Alguns vídeos interessantes também.
Vídeo-sátira anti-estupro estrelado pela atriz de Bollywood Kalki Koechlin e apresentadora de TV Juhi Pandey - A culpa é sua!
Propaganda egípcia - Put youself in her shoes (Se coloque no lugar dela)
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Por fim, um ótimo artigo, publicado originalmente no Cem Homens e posteriormente na revista Carta Capital, que gerou bastante repercussão: "A cultura do estupro gritando – e ninguém ouve". O texto fala sobre o episódio em que Gerald Thomas tentou colocar as mãos por dentro do vestido da Nicole Bahls. Nádia Lapa aponta a reação (ou a falta de) ao fato. Como, diante do papel que Nicole Bahls assumiu em sua carreira, acabou saindo como a "culpada" pela invasão de seu corpo por parte do diretor.
"Se a mulher geralmente já é tratada como “coisa”, como um objeto para deleite masculino, quando ela tem seu corpo e sua sexualidade transformada em um produto vendável, tudo só piora. Nicole faz sucesso porque tem um corpão, segundo os padrões de beleza atuais. Ela aparece de biquini na televisão, tira fotos “sensuais”, usa roupas curtas e provocantes. Como ela “provocou” (apenas sendo quem ela é), ela merece ser apalpada por um estranho." - Nádia Lapa
Mas a invasão sofrida por Nicole não demonstrou apenas a
existência e naturalização da cultura do estupro no seio de nossa sociedade,
mas também um de seus efeitos sobre as mulheres.Voltamos a frase de Lisa Jarvis
mostrada ainda no início da postagem de hoje: a cultura do estupro
"encoraja as mulheres a culparem a vítima, a se odiarem, a se culparem, a
se responsabilizarem pelo comportamento criminoso dos outros". Uma questão
muito presente no feminismo, ainda que receba algumas críticas quando não é
intersecional, é a sororidade.
A sororidade é uma forma de cumplicidade entre mulheres, de
modo que uma se coloque ao lado da outra, ajudando-a a se empoderar,
defendendo-a e apoiando-a. Ela é uma forma de mostrar que as mulheres não “se
odeiam” por natureza e que a tal “rivalidade feminina” é um conceito criado
pelo patriarcado, que afasta as mulheres umas das outras e faz com que muitas
delas reproduzam pensamentos e atitudes machistas para se sentirem aceitas pelo
grupo privilegiado.
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O primeiro texto “Construindo Sororidade” de Carol Marques, nos apresenta uma definição do conceito abordado e como ele é importante para o feminismo e o quanto ele anda de mãos dadas com o feminismo intersecional. Nas palavra da autora:
"'Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor'. A ideia do apoio mútuo, em que as mulheres fortalecem umas às outras e se empoderam ao mesmo tempo. Isso não pode ser feito se não houver reconhecimento de opressão e privilégios. Por exemplo: eu, como mulher branca, cis e de classe média, devo reconhecer que sou privilegiada diante de uma mulher trans* negra e pobre, e devo ter empatia por ela. Ainda que eu discorde de alguma de suas falas, eu a respeito, pois tenho empatia e reconheço as relações de poder que existem entre nós. Isso não significa calar-se diante de discordâncias, mas sim lembrar que antes de existir uma pessoa que está falando algo que você não concorda, existe uma mulher com infinitas complexidades diante de você”. - Carol Marques
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O segundo texto, publicado no site Feminismo sem demagogia, foi escrito por Kátia da Costa e se chama "Sororidade: você também pode". Ele é mais voltado para mulheres que já se identificam como feministas, e nos apresenta uma visão da sororidade como algo necessário para, inclusive, lutar contra a desigualdade do sistema capitalista, além de explicar o porquê de muitas mulheres reproduzirem o machismo contra outras mulheres.
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O terceiro texto, de Thayz Athayde, “A gente cuida uma da outra”, disponível no site Blogueiras Feministas, além de dar uma breve explicação do que é sororidade, apresenta um relato acerca da mobilização de mulheres em defesa de uma companheira que fora agredida por seu ex-namorado – que repetiu a agressão com a namorada seguinte – no dia da sua cerimônia de formatura. O relato é particularmente interessante, pois mostra a força que tal ato pode ter, no sentido de proporcionar às vítimas a coragem de falar e de se sentirem apoiadas.
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"O que me deixou aflita e o que eu queria dizer para aquelas meninas que mandaram as mensagens é: NOSSO CORPO É NOSSO. Não deixe ninguém te dizer o contrário. Desfrute dele, assuma-o com a forma e tamanho que ele tiver, vivencie seu corpo- assumindo a responsabilidade que isso traz. Esse empoderamento é importante pra todas nós. Nós podemos usar a roupa que quisermos, podemos dizer o que quisermos, podemos ficar com quem quisermos, a hora que quisermos. Somos donas do nosso destino e estamos aqui para sermos felizes e nos sentirmos bem. O resto, meus amores, é só opressão. Pra mim isso tudo é clichê de tão óbvio, mas achei que devia dizer. Um abraço carinhoso pra todas, suas lindas. E em tempo: um beijo, Anitta!"
Exalando sororidade!
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O último texto selecionado para tratar do assunto da
sororidade é o “Feminismo e sororidade”, escrito por Jéssica Ipólito,
blogueira do site Gorda e Sapatão. É um texto interessante pois a autora
revela o momento em que teve seu primeiro contato com o feminismo e com
manifestações sociais em defesa dos direitos das mulheres, e nesse momento
conheceu outras mulheres, diferentes dela, porém compartilhando um mesmo ideal.
e a partir daí, pôde perceber o que é a sororidade e como ela mudou a sua vida.
um relato empoderador e inspirador.
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Por fim, um exemplo prático de sororidade vindo de uma pessoa famosa: o texto de Pitty direcionado a Anitta ao receber recados de fãs sobre as apresentações de Anitta com músicas dela. Um trechinho:
"O que me deixou aflita e o que eu queria dizer para aquelas meninas que mandaram as mensagens é: NOSSO CORPO É NOSSO. Não deixe ninguém te dizer o contrário. Desfrute dele, assuma-o com a forma e tamanho que ele tiver, vivencie seu corpo- assumindo a responsabilidade que isso traz. Esse empoderamento é importante pra todas nós. Nós podemos usar a roupa que quisermos, podemos dizer o que quisermos, podemos ficar com quem quisermos, a hora que quisermos. Somos donas do nosso destino e estamos aqui para sermos felizes e nos sentirmos bem. O resto, meus amores, é só opressão. Pra mim isso tudo é clichê de tão óbvio, mas achei que devia dizer. Um abraço carinhoso pra todas, suas lindas. E em tempo: um beijo, Anitta!"
Exalando sororidade!
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E só pra deixar esse post mais repleto de sororidade, duas indicações de filme:
Tomates Verdes Fritos (Fried Green Tomatoes) - 1991
Thelma & Louise - 1991
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Muitx obrigadx a todxs que participaram com a gente dessa Semana de Luta!
Nosso objetivo foi evidenciar o machismo na nossa sociedade e as diferentes formas de opressão dele sobre diferentes mulheres. Explicar alguns conceitos feministas, como o feminismo intersecional. Mostrar como o feminismo é uma resistência e uma luta, que visa empoderar todxs as mulheres e conquistar mais direitos para garantir sua sobrevivência. Busca desconstruir esteriótipos e quebrar padrões. E que uma das melhores maneiras de se fazer isso é através da sororidade, que quebra com a ideia de competição entre as mulheres e de rivalidade, para mostrar que unidas somos mais fortes e mais capazes. E claro, trazer esse debate mais pra perto da nossa Universidade.
Esperamos que nossas postagens e todo o material que publicamos tenha ajudado no empoderamento de muitxs companheirxs!
E que esse seja o primeiro de muitos passos!
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