O CAHIS-UERJ convida a todxs para a Calourada de História, que ocorrerá nos dias 19 e 20 de março, tendo como tema “A Historiografia Marginalizada”, abordando, principalmente, História de Gênero e a História Étnico-racial!
Visamos com este evento, aprofundar a discussão a respeito das opressões sofridas por esses grupos na sociedade e como isso reflete na ausência de espaço dessas temáticas na Historiografia Oficial. Queremos também propor a desconstrução de paradigmas e preconceitos persistentes tanto no senso comum, quanto na historiografia, trazendo mais visibilidade para estes personagens que foram largamente silenciados ao longo da História.
Falar sobre a Historiografia Marginalizada é debater qual é o papel dos negros, dos índios, das mulheres e demais grupos oprimidos em nossa Historiografia. Infelizmente as opressões sociais sofridas por esses grupos refletem na Universidade, na construção do conhecimento, onde estes também são oprimidxs: em nosso currículo de História, de caráter eurocêntrico e colonizado. Esse debate, propondo mostrar o outro lado da História, será muito frutífero para xs calourxs, que terão a oportunidade de ter contato com a Historiografia Brasileira, silenciada nas salas de aula e que propõe algo a mais do que ser uma cópia de intelectuais estrangeiros (europeus e norte-americanos) com pouca aplicabilidade para a realidade da sociedade brasileira. Através de mesas e exibição de filmes, convocaremos os participantes, especialmente xs calourxs, a refletirem sobre questões constantemente colocadas à margem pela sociedade de maneira geral, sendo a academia um dos principais meios reprodutores dessas omissões.
Por isso, a mesa que dará início aos trabalhos da Calourada 2014, intitulada “O que é história e a função social do historiador”, terá como objetivo introduzir um pouco do que se trata o campo científico pelo qual todos nós do curso de história optamos por cursar e, mais ainda, levantar os primeiros questionamentos de muitxs sobre a importância que os historiadores têm para com a sociedade, além, é claro, da função e da responsabilidade política-pedagógica que carregamos com nossa profissão. Acreditamos que esta atuação deva existir através de uma lógica de saber não mercantilizada, capaz de formar pessoas com senso crítico, e que seja catalisadora de mudanças sociais que permitam a existência de uma sociedade mais igualitária para todxs. Acreditamos que, atualmente, e carregando um ranço da ditadura civil-militar, a universidade brasileira segue uma lógica tecnocrata e mercantil, que visa formar, além de mão de obra, uma ideologia para abastecer e sustentar a sociedade burguesa, esquecendo que a verdadeira função social da universidade deveria ser implantar suas práticas profissionais ao seio do povo, contribuindo para sua independência e autonomia econômica e intelectual.
No dia 20, durante o horário da manhã, será realizada a mesa "Historiografia de gênero", que contará com a presença de Waleska Aureliano de Araujo, antropóloga especialista em saúde da mulher. Em sua fala, a professora problematizará através de um viés histórico, como o campo da medicina foi por muito tempo um grande responsável por criar pares contrastantes em relação aos conceitos de “corpo”, “gênero” e “sexo”, que acabavam por hierarquizar esses polos, dando “fundamento cientifico” para discriminações já tão enraizadas na sociedade. A mesa contará também com o escritor, psicólogo, ativista dos direitos humanos primeiro trans* homem operado do país e grande militate da visibilidade trans* no Brasil, João W. Nery, que estará lançando e autografando seu mais recente livro, “Viagem Solitária”, durante o evento. Qualquer demonstração de machismo, homofobia ou transfobia deve ser encarada como uma das atitudes mais destrutivas presentes em nossa sociedade, e que estão, infelizmente, profundamente arraigadas em nossas estruturas sociais. Cabe a cada um de nós se conscientizar, se empoderar e desconstruir todos os dias os paradigmas que sustentam não só as opressões ligadas a gênero ou à sexualidade, mas também todas as outras, afinal, todas as opressões estão interligadas.
Finalmente, no período da noite, será realizada a mesa "Historiografia Étnico-racial", umas das temáticas mais importantes e delicadas em um país que ainda tem que lidar com as consequências de quase quatro séculos de racismo institucionalizado e de cultura escravista. Vivemos em uma conjuntura em que diariamente somos bombardeadxs com manchetes tratando de tensões cada vez mais violentas entre grupos étnico-raciais, onde o grupo historicamente mais explorado e marginalizado é sempre o que acaba prejudicado. Assistimos as terras e os direitos humanos dxs indígenas originárixs serem deliberadamente usurpados em prol de “mega eventos” capitalistas, que apenas reiteram um modelo de “cidade negócio” completamente inviável e inacessível às camadas populares. Vemos debates a respeito do falido sistema carcerário brasileiro e sobre mudanças no atual código penal (redução da maior idade), quando esses artifícios punitivos não passam de ferramentas racistas higienizadoras. Nós, estudantes da rede pública, vivenciamos todos os dias os resultados positivos que políticas públicas amplas e compensatórias a um momento nefasto de nossa história são importantes para a inclusão de populações historicamente excluídas, especialmente em espaços de discussão e produção de saber, como a universidade. Contaremos com a presença de Meslissa Carvalho Gomes, cujo trabalho se dirige ao estudo da literatura de autoria indígena e que poderá dividir conosco seus conhecimentos acerca da questão indígena, de maneira mais geral, e Claudia Calmon, cujo trabalho apresenta reflexões acerca das representações do negro na sociedade brasileira e o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio.
Ainda contaremos com duas atividades no período da tarde, em ambos os dias. Durante a tarde do dia 19, teremos um mini-curso com o mestre em História Política pela UERJ e professor do Colégio Pedro II, Roberto Santana, tratando de um dos assuntos que mais podem vir a confundir x ingressante no curso superior de história, que são as diversas correntes historiográficas possíveis de serem adotadas na produção historiográfica. Esperamos que o mini-curso esclareça e prepare melhor xs calourxs para os períodos que virão. Já na tarde no dia 20, haverá a exibição do filme “Nós que aqui estamos por vós esperamos”, de 1999, dirigido por Marcelo Masagão, uma espécie de versão filmada de a “Era dos extremos” de Eric Hobsbawm, um verdadeiro giro pelo marcos econômicos, políticos e culturais do século XX.
Calourxs, lembrem-se de que esse evento é feito principalmente para vocês, para que tenham contato, desde o começo da vida acadêmica, com o que é, de fato, a Universidade. A participação de todxs é importante, mas não esqueça que esse evento é feito principalmente para você. Contamos com a participação de todxs!
*Os artigos definidores de gênero no texto foram substituídos por "x" não só para equalizar os gêneros, mas porque existem pessoas que não se identificam com a concepção binária de gênero, e essa é uma pequena forma de incluí-lxs na linguagem escrita.
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