sábado, 3 de abril de 2010

Armando Nogueira

De diretor-responsável da "Central Globo de Alienação" a dublê de poeta da crônica esportiva... Dois membros da "Gestão FILHOS DA PÚBLICA IV" trocam memórias sobre Armando Nogueira.

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Nada é mais covarde do que bater em cadáver. O problema é quando, ao invés de enterrá-lo, resolvem pendurá-lo como espantalho. Armando Nogueira virou um espantalho digital: "poeta do esporte", "reserva moral do jornalismo". Nem uma coisa nem outra. Seus textos pingavam gordura, pieguices de um Coelho Neto de segunda divisão; completamente diferente do grande João Saldanha, texto preciso, com humor, de quem, aliás, Nogueira não gostava. Saldanha dizia que Nogueira queria o poder no futebol, mas que era muito dissimulado para dizer isso com clareza. Dava pra ver. Em mesas redondas, o cara era cheio de dedos, disfarçados naquela chorumela de Drummond de Xapuri.

Quanto à "reserva moral", eu me lembro do que ficou conhecido como "caso Proconsult". O ano era 82, primeira eleição direta pra governador, depois da abertura e da volta dos exilados, Brizola favorito disparado. Começa a cilada, armada na primeira apuração eletrônica das eleições. A Proconsult - empresa de militares da reserva, dizem que da área de informações - havia sido encarregada de fazer a apuração e, junto com a Globo, armava a picaretagem na seguinte base: dobrava ou triplicava os votos do interior do Estado, a maioria de cabresto, votos do Moreira Franco, candidato da ditadura, e mantinha ou reduzia os votos pesados, que faziam a diferença da Capital, praticamente de oposição, dados quase integralmente ao Brizola. Neste ponto, justiça seja feita, quem desconfiou da armação e avisou ao Brizola foi o Cesar Maia, que, depois, deu no que deu. Brizola foi à Globo, forçou a entrada e veio a público fazer a denúncia, abortando a tempo o golpe, num momento em que Moreira já dava entrevista como governador eleito. O próprio Roberto Marinho comandava a operação, através da "reserva moral do jornalismo".

ANTÔNIO MÁXIMO
3° período/noite
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Enquanto jornalista, Armando Nogueira só deu um furo: estava voltando da noitada pra sua casa, na rua Tonelero, em agosto de 1954, quando viu o "atentado" contra Carlos Lacerda (quando tentaram matar o corvo dando-lhe um tiro no dedão do pé).

Depois dessa, virou dublê de poeta e diretor de jornalismo da Globo, nos primórdios do canal 4. Na época, o noticiário era o Ultra-Notícias, produzido por uma agência de publicidade, que escolhia o noticiário de acordo com seus interesses comerciais. Quem disse isso foi o próprio Armando, em seus depoimentos ao "Memória Globo".

Servidor dócil dos generais da Ditadura e de seu general sem farda, Roberto Marinho, Armando Nogueira criou o padrão do Jornal Nacional: locutores com aparência de ator da novela das oito, notícias rápidas e nunca drando mais de 15 minutos, para que a telespectadora das novelas das sete e das oito não mudasse de canal durante o JN, que nos anos 1970 era exibido entre 19:45 e 20:00.

Armando foi um "operário-padrão" do chefe Marinho, sempre fazendo o que ele manda - aí vão a manipulação da eleição de 1982, a omissão do comício das Diretas em São Paulo, em 1984, e por aí vai...

Em 1989, Armando Nogueira foi aos jornais criticar a manipulação do debate entre Collor e Lula, feita a revelia dele (é o que ele dizia). Coincidência ou não, meses depois ele foi demitido da Globo, depois de quase 25 anos na direção. Em seu lugar entrou Alberico Souza Cruz, o responsável pela edição daquele debate.

BRUNO PERES
7° período/noite
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Leia também esse texto de Eliakim Araújo, que conheceu, de dentro, o "Padrão Globo de Alienação": http://www.fazendomedia.com/?p=3190

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