sábado, 29 de maio de 2010

Debate sobre cotas raciais

Alunos do curso de História da UERJ juntos com o Professor Henry Gates (de azul) e a Professora Marilene Rosa (terceira da esquerda para a direita), que também participou do debate.

Neste último dia 20/05, o Centro Acadêmico de História ajudou a realizar um debate sobre cotas raciais com o professor de Harvard, Henry Louis Gates Jr., um dos acadêmicos com mais conhecimento sobre a questão racial nos Estados Unidos. É um professor bem respeitado quando o assunto é a questão racial nos Estados Unidos da América. Ele é diretor do Instituto de Estudos para Africanos e Afro-americanos.

O debate começou com uma reflexão sobre a lei 4151/2003. Esta lei introduziu a reserva de vagas para alunos carentes na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A reserva de vagas na UERJ é fruto de uma luta intensa, travada pelos movimentos sociais e derivada da luta por uma sociedade mais igualitária e democrática que combate os privilégios da elite, que em detrimento da grande maioria da população, mantém a pirâmide social quase que imutável a mais de 500 anos.

Este debate foi gravado para o programa de televisão do professor Gates, exibido nos Estados Unidos. O programa fala sobre relações raciais.

O evento foi um debate fechado onde os alunos de vários cursos (História, Ciências Sociais, Jornalismo, Direito, Filosofia e etc.), a favor das cotas ou contra elas, discutiram sobre a sua existência nas universidades públicas brasileiras. Enquanto os alunos a favor das reservas de vagas tinham como pauta nas suas argumentações a democratização no ensino superior, integração de todos os setores da sociedade na universidade pública, evocando o papel desta em atender a todos, e não somente as elites; os alunos contra as cotas, em sua maioria brancos, elitistas e hipócritas ou cegos, pois argumentaram que não existem privilégios de ricos em relação aos pobres e de brancos em relação as negros no Brasil.
Estes em seus discursos queriam invocar um direito a concorrer a todas as vagas, como se os negros não tivessem direito de estar dentro da universidade também. Direito este que desde a criação da universidade pública no Brasil lhe foi negado, pois estas universidades criadas por uma elite branca fizeram de tudo para manter seu status e poder sobre a construção e a posse do conhecimento. Embasado nisto, fizeram de tudo para impedir a entrada de negros (que representam 47% da população) que são menos de 10% nas universidades públicas no Brasil.

O grupo dos alunos que são a favor das reservas de vagas, (é importante ressaltar que este grupo era interdisciplinar e contava com cotistas e alunos que não entraram pela reserva de vagas, brancos e negros) levou números do racismo à brasileira, contavam histórias reais de racismo e depoimentos pessoais sobre as cotas e sua importância emergencial em busca de uma redução da desigualdade social fruta de uma política de Estado, no começo oficial e depois camuflada, em um primeiro momento escravista e posteriormente racista até nossos dias.

Nesta sociedade capitalista que prega uma meritocracia, a pergunta é: Qual é o mérito que existe no fato de um aluno que estudou em uma boa ou ótima escola (ao qual nenhuma pessoa com salário mínimo pode pagar), tirar melhor nota no vestibular que um aluno carente, em sua maioria da raça negra, que vive em uma das centenas de áreas de risco do Estado, onde sofre com a falta de professores, ausência de estrutura na escola e cancelamento de aulas devido a greves e tiroteios?

A reserva de vagas tem que ser acompanhada de uma política pública de melhoria da educação básica. Mas é de caráter fundamental e emergencial neste momento em que vivemos.

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