quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Homenagem aos 90 anos de Leonel de Moura Brizola

O Centro Acadêmico de História - Gestão Filhos da Pública faz homenagem aos 90 anos do nascimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola (22/01). Um dos políticos mais corajosos e coerentes da história nacional. 
Ao sentirmos falta da ética, dos valores morais e sinceridade na política brasileira, não poderíamos deixar de render homenagem a uma espécie de político que consideramos estar em extinção.  
“é profanação o esquecimento vergonhoso dos mortos” José Martí

A ESQUERDA QUE A DIREITA GOSTA - POR LEONEL BRIZOLA

Quando, no final do período autoritário, reorganizávamos o trabalhismo, alguns intelectuais pretensiosos torciam o nariz e diziam que uma política nacionalista e popular não era suficiente, pois desprezava o conceito marxista da luta de classes. Por conseqüência, incensavam o PT que, na figura de Lula, um operário de carne e osso, parecia a própria personificação da luta de classes entre trabalhadores e capitalistas. A história começaria a partir deles.
Vinte anos depois, porém, a realidade vai mostrando a todos, inclusive aos surpresos militantes sinceros do PT que, entre os intelectuais, quem tinha razão era o inesquecível Darcy Ribeiro, quando afirmava que o PT era “a esquerda que a direita gosta”. Aos gestos de “paz e amor” com os banqueiros, as corporações empresariais e o FMI, este Governo parece ter encontrado a mesma fórmula de Collor e Fernando Henrique para produzir uma mistificação que encubra sua cumplicidade com os grupos dominantes daqui e de fora. O que pretendem, na verdade é desmoralizar o funcionalismo como tática para alcançar o seu real objetivo: debilitar o Estado brasileiro para que este país possa ser melhor dominado.
Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência e honestidade sabe que estamos diante de uma grande empulhação. Como chamar de privilegiadas categorias que há oito anos não recebem aumentos e, agora, no “governo da esperança” tiveram 1% que nem mesmo foi pago até agora? Claro que existem absurdos em alguns vencimentos na administração pública e, eu, no Governo do Rio de Janeiro, fui talvez o primeiro governante a combatê-los. Todas estas medidas moralizadoras, porém, acabam caindo no Judiciário pelo simples fato de, até agora, os Governos – inclusive o atual – não terem aplicado, para os três poderes, o teto constitucional.
E não o fazem porque estes abusos são o instrumento perverso para a grande mistificação que fazem contra os servidores públicos. Num país de salários miseráveis, é fácil enganar com argumentos vazios como a comparação entre um professor universitário e um cortador de cana. Teria o Presidente a coragem de fazer a mesma comparação entre um professor e os executivos que pululam no seu “Conselho de Desenvolvimento” e que ganham, todo mês, entre salários e benefícios, 30, 50 ou 100 vezes mais?
 A crua verdade é que esta falsa luta de classes do Governo petista, como foi a de seus antecessores, é pelo aviltamento e destruição do serviço público. De um lado, arrochar e produzir superávits a serem pagos em juros aos financistas daqui e de fora. De outro, para abrir a eles – como fizeram com a energia, as teles, os minérios – novos negócios, como a previdência privada. Em tudo, aviltam o Estado como instituição – talvez a única – capaz de defender nosso país da ordem econômica imperial, injusta e desumana como a que impõem.
 Agora, 20 anos depois, permito-me ampliar a frase de Darcy Ribeiro. De uma esquerda assim, a direita não apenas gosta. Precisa dela. Por que quer, sob a imagem de um operário – como, antes, fizeram usando o intelectual esquerdista FHC – poder fazer mais mal ao povo brasileiro do que com qualquer carranca conservadora na Presidência.
 Julho de 2003


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