quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Conferência do Clima: Crônica de uma Morte Anunciada


Decepção. Essa é a palavra que define as duas semanas da décima quinta Conferência da ONU para Mudanças Climáticas (COP 15) realizada entre 07 e 19 de dezembro em Copenhague, Dinamarca.
A reunião a qual se criou a expectativa de ser o palco para a formulação de um tratado que definisse os meios para uma redução na emissão de gases causadores do efeito estufa terminou sem consenso. Pior, sem qualquer medida concreta para alcançar o seu objetivo maior.
O desastre já havia sido enunciado. Os Estados Unidos, maiores poluidores, foram para a COP 15 sem regras definidas dentro do seu próprio país, já que a proposta tímida do presidente Obama para redução das emissões não foi ainda aprovada pelo legislativo norte-americano. A direção da Conferência pelo governo xenófobo e racista (os muçulmanos que o digam) da Dinamarca não mostrou pulso firme, pavimentou o caminho para um “acordão” entre os países ricos e ainda tentou, mais de uma vez, obstruir o direito ao pronunciamento dos mais pobres.


Protestos nas ruas de Copenhague em todos os dias da Conferência



A coisa já não cheirava bem quando tentaram colocar o Protocolo de Kyoto pra escanteio, logo no início dos trabalhos. Diferentes interesses estavam em jogo. Haviam os países industrializados (Estados Unidos, Canadá, Japão e União Europeia), as nações classificadas como “em pleno desenvolvimento” (China, Índia, Brasil e África do Sul); e o G – 77 (grupo dos 130 países mais pobres do mundo presidido pelo Sudão). Cada um desses grupos tem um peso diferenciado na poluição do mundo, logo cada um deveria contribuir de maneira específica para conter as mudanças climáticas.
Notoriamente, o presidente estadunidense, Barak Obama fez o papel mais lamentável da conferência. Propostas nulas, não assumindo a posição histórica de maior culpado pelo aquecimento global e ainda invadindo uma reunião dos países “em pleno desenvolvimento”, o que irritou os chineses. Obama exigia uma inspeção nos fundos que fossem destinados a esses países, mesmo quando financiados a âmbito nacional, o que soou aos chineses como intromissão em assuntos internos. No final, a inspeção foi trocada pelo termo “consulta”.
O Acordo final se quer pode ser chamado dessa forma. Por não ter sido aceito em plenário, visto que foi concebido em reuniões entre os ricos e os “emergentes”, a assembleia rejeitou o projeto. Para não acabar sem nada nas mãos, o secretário geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki Moon, “tomou nota” do acordo, como uma carta de intenções. Venezuela, Bolívia e Cuba, assim como o G-77 denunciaram que o acordo não compromete nenhum país a nada, são somente palavras ao vento. Também relataram a forma antidemocrática que foi conduzida a COP 15, com mais reuniões às escuras do que propostas no plenário.



"Não existe planeta B”

O que foi colocado no papel é o reconhecimento de que os países devem evitar que a temperatura do planeta aumente em 2 Cº até o final do século XXI. Como isso será feito, no entanto, ninguém assumiu nada. Foi acordado também o compromisso dos ricos em financiarem a luta contra o desmatamento nos países pobres e a criação de um fundo para captação de recursos para ajudar as nações mais pobres contra os problemas gerados pela mudança climática. Alguns países ricos anunciaram doações para esse fundo, no entanto, todas aquém do necessário, esperando auferir o restante do dinheiro necessário no mercado (?!)
Frente a esse antidemocrático jogo encenado pelos países ricos, cabe relatar a heróica resistência dos manifestantes de toda parte do mundo que marcaram presença na capital dinamarquesa e levaram às ruas protestos em todos os dias do encontro.
A próxima Conferência do Clima (COP 16) está marcada para o final de 2010 na Cidade do México. Esperamos que lá se chegue a um acordo que realmente delimite metas concretas e que os países ricos assumam a sua culpa nesse problema. As consequências de um novo erro seriam catastróficas.

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