domingo, 18 de julho de 2010

O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO RIO?

Há exatos 30 anos, em 18 de julho de 1980, uma decisão unilateral do Governo Federal, chefiado na época pelo ditador João Figueiredo, decretou a não renovação da concessão da TV Tupi do Rio, canal 6, da TV Tupi de São Paulo e de outras cinco emissoras da Rede Associada. Assim, saíam do ar as primeiras emissoras de televisão do Brasil.

Julho de 2010, um dos jornais mais tradcionais do Brasil está com seus dias contados. O centenário Jornal do Brasil sairá de circulação em 1 de setembro, a menos que surjam novos interessados em administrar o tradicional veículo de comunicação.

O JB junta-se a outros jornais que marcaram época mas foram sufocados pelo monopólio Global: Correio da Manhã, primeiro jornal a fazer oposição à ditadura; Última Hora, jornal aliado do povo trabalhador; Tribuna da Imprensa, onde Hélio Fernandes e sua equipe resistiram o quanto puderam. Hoje, sobram o cambaleante O Dia e o inacreditável Meia Hora, recentemente vendidos para um grupo português, e os jornais das Organizações Globo, que exercem um monopólio nunca visto na imprensa carioca.

As rádios passam por crise semelhante. O Rio é órfão de estações que marcaram época: Rádio Jornal do Brasil, vendida para a LBV pra pagar dívidas do JB; Rádio Cidade, emissora que criou o estilo FM, virou rádio de operadora de celular; Fluminense FM, emissora que impulsionou o rock nacional e tocava tudo do rock internacional; Antena 1, de emissora musical a repetidora da Rádio Tupi; e ainda existem outros exemplos. Vive-se a época da "rádio papagaio", onde a mesma emissora retransmite em AM e FM, pagando os salários dos funcionários como uma rádio, mas vendendo anúncios como se fossem duas. Enquanto isso, chegamos ao cúmulo de, na Copa do Mundo, o Sistema Globo de Rádio fazer a mesma transmissão em cinco rádios diferentes: CBN AM 860 e FM 92,5, Rádio Globo AM 1220 e FM 89,3 e Beat 98 FM 98,1. Menos profissionais trabalhando, menos emprego para o difícil mercado de trabalho dos jornalistas e menos opções de programação para o público.

Temos que nos lembrar também da Rede Manchete, que foi cassada devendo R$ 308 milhões, enquanto a Globo atualmente deve R$ 4 bilhões e ninguém fala nada.

O Rio de Janeiro já foi sede dos principais jornais, rádios e televisões do Brasil. Hoje, o Rio vive o monopólio das Organizações Globo, que nunca foi tão forte quanto agora. Se antes existia o JB para ser o contra-ponto, hoje vigora o pensamento único, onde UPP é a panaceia contra a violência, choque de ordem é a solução para organizar a cidade, camelô é criminoso e quem protesta pelos seus direitos é baderneiro. E tudo está pronto para dar a reeleição ao Sérgio Cabral no primeiro turno.

E se a imprensa carioca fosse assim antigamente, que volume de informações os historiadores atuais teriam sobre fatos de outras épocas? Fosse assm em 1954, por exemplo, era arriscado nós hoje só conhecermos Getúlio Vargas pela ótica de Carlos Lacerda. Será que alguém pretende achar espaço para o contraditório na "impren$a" carioca da atualidade? Será que o Rio é tão provinciano a ponto de não ter debate entre diversas correntes de pensamento? Os historiadores do futuro só conseguirão pesquisar os fatos do nosso tempo pela ótica global? Se for assim, o que vai ser da nossa história...
Bruno Peres
7o. Período/noite

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