sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Ordem de choque compra o carnaval

Texto publicado na internet sobre a exaltação ao Choque de Ordem que a São Clemente levou à passarela, lhe garantindo a hostilidade do público presente e o primeiro lugar do grupo de acesso.
Em tempo, é provável que o "xerifão" Rodrigo Bethlem, queridinho da Globo, venha candidato nas próximas eleições, segundo o próprio jornal O Globo, que em tom de campanha aberta exalta os "feitos" do Choque de Ordem comandado por Bethlem. Em tempos de censura privada, a repressão é exaltada e o resultado é previsível. Aproveito para lembrar a lição de Marildo Menegat, sobre a barbárie institucionalizada que vemos por aí: Parece que hoje o estado de exceção é o que mais se legitima, mesmo na ordem eleitoral. Quando a truculência é o que mais garante legitimidade na política, talvez não haja mais nada a ser legitimado. O governo que governa pela truculência está fadado a cair, mais cedo ou mais tarde. A eleição de Rodrigo Bethlem seria, assim, mais um passo rumo à barbárie.

O ENREDO CHAPA-BRANCA DA SÃO CLEMENTE
Aos poucos vamos voltando com a nossa programação normal. E, de saída, registramos o fato mais lamentável deste Carnaval. Verdadeira palhaçada, o primeiro lugar da São Clemente (aqui) marcou de forma negativa os desfiles do grupo de acesso na Marquês de Sapucaí. A escola de Botafogo, zona sul carioca, exaltou o "choque de ordem" da Prefeitura do Rio. Um enredo chapa-branca, escandalosamente elaborado para satisfazer interesses políticos. Quanto custou aos cofres públicos o desfile da São Clemente? Quem acha a pergunta capiciosa deveria ponderar sobre a possibilidade de uma escola pequena receber apenas uma nota -- repito, apenas uma! -- abaixo de 10: um generoso 9,7 no quesito mestre-sala e porta-bandeira.
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Não assisti o desfile mas, segundo testemunhas oculares, a São Clemente foi recebida com frieza pelas pessoas nas arquibancadas e houve até mesmo um princípio de vaia. A comissão de frente -- uma das mais nojentas da histórias do Carnaval -- veio formada por guardas municipais estilizados, carregando escudos de aço e distribuindo cacetadas em um apavorado trio formado por arlequim, pierrô e colombina.
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Uma ala abjeta representou o prefeito, subprefeitos e secretários da cidade, apresentando-os como xerifes legais. Outra chamava a atenção com meninos de rua trazendo latas de cola e cobertores nas mãos. Na sinopse do enredo distribuída ao público, a ala era definida assim (os grifos são meus): "Um dos focos principais da política da prefeitura, meninos e meninas de rua são acolhidos e recebem o amparo amoroso desse ordenamento".
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A São Clemente desceu da seguinte forma (notem o absurdo escancarado em alguns setores da escola):
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Comissão de frente: Choque de Ordem na Folia. Policiais colocam ordem no Carnaval.
Abre-alas: Saudades do Rio. Copacabana saudosa dos anos de 1950.
Baianas: Praia de Copacabana. Com uma proposta mais divertida para as baianas, usando bóias e toca de mergulho na fantasia.
Segundo setor: Ações da prefeitura na cidade, com guardas de trânsito multando infratores e a construção ilegal ganham espaço neste setor.
Segundo carro: República do Gato. Gato de luz, gato de TV e o gato de rádio podem ser observados na alegoria que traz uma favela.
Terceiro setor: A escola faz algumas referências de enredos antigos da agremiação, como o Boi com Abóbora e rainhas de bateria com olho roxo.
Terceiro carro: O Samba Sambou. Um ringue de boxe com duas rainhas de bateria se agredindo ilustram este carro. Há também um roqueiro tocando tamborim e um sambista tocando guitarra.
Quarto setor: Saudade do Rio. Relembra os personagens de antigos carnavais, com a figura do bonde.
Primeiro casal de mestre-sala: O Sol do Rio de Janeiro.
Bateria: Xerifes do Choque de Ordem.
Quarto carro: O Bonde São Clemente. Aborda os carnavais antigos.
Quinto setor: O Samba Virou Hollywood. O último setor da escola fez referências às mazelas do carnaval atual, repleto de estrelas e celebridades.
Quinto carro: O Carnaval Virou Hollywood. A São Clemente afirma que o carnaval virou Hollywood. Nesta alegoria estará o personagem do enredo, o gari Renato Sorriso, representando o povo.
Passistas: Na companhia de Renato Sorriso, os passistas masculinos e femininos da São Clemente vieram vestidos de garis.
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Segundo a pesquisadora Eneida, em seu livro História do Carnaval Carioca, "parece que uma das características do Carnaval é dar aos escravos de qualquer época o direito de criticar os seus senhores". A São Clemente fez o contrário e assumiu a atitude anti-carnavalesca mais explícita de que se tem notícia. Reacionário e servil são adjetivos aplicáveis ao que apresentou na avenida.
http://botequimdobruno.blogspot.com/2010/02/o-enredo-chapa-branca-da-sao-clemente.html
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2010/02/16/rodrigo-bethlem-deve-sair-candidato-nas-eleicoes-915870713.asp

2 comentários:

  1. Thiago Bomfim Casemiro22 de fev. de 2010, 14:04:00

    Primeiramente gostaria de me desculpar por usar o espaço para outro assunto.
    Sou estudante do curso de história da UVA- campus Cabo Frio, embora separados geograficamente e institucionalmente, gostaria de receber auxílio para suprir a carência que temos de um centro acadêmico.
    Inicialmente gostaria de tomar conhecimento dos procedimentos necessarios para a formação e do estatuto vigente na UERJ.
    Grato.


    contato: tcasemiro@hotmail.com

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  2. Caro Thiago
    É urgente a necessidade de fortalecer a representação estudantil nas faculdades particulares.

    A organização de um diretório estudantil deve seguir a necessidade dos seus alunos, o local, as reivindicações, etc. O melhor que você pode fazer é circular a ideia entre os alunos do curso e organizar uma assembleia para fundar o C.A., onde os participantes decidirão o funcionamento (atividades, tempo de gestão, etc.)

    Para outros detalhes, entraremos em contato com o seu correio eletrônico.

    Bruno Peres
    CAHIS-UERJ - Gestão "FILHOS DA PÚBLICA IV"

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