domingo, 24 de março de 2013

O vergonhoso ataque à cultura e povos indígenas no Estado do “direito a não ter direito”




Como diria Karl Marx, a História se repete: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. E é pela farsa dos grandes eventos que as arbitrariedades do governo do estado estão cada vez mais intensas. Remoções estão condenando a população carente a situações desesperadoras. Dezenas morrem durante as fortes chuvas nos inícios dos anos e não há investimentos para solucionar os problemas. A educação continua com pouquíssimos recursos e os hospitais estão sofrendo com escassez de produtos básicos. E, em contraste à precariedade, estádios servem para os gigantes do capital, as favelas estão cada vez mais disponíveis à especulação imobiliária e milhões e mais milhões continuam a ser liberados para as obras que visam nada mais que a Copa e Olimpíadas.
Acompanhamos há muito tempo a luta dos indígenas da Aldeia Maracanã pela preservação de sua cultura e seu solo. Após diversas ameaças por parte do governo da desapropriação do local, tivemos no dia 22 de março o ápice da truculência do estado. Centenas de manifestantes estiveram desde a madrugada na Aldeia, solidários a causa e expressando o descontentamento com esse ataque à nossa cultura. Inúmeras foram as prisões de manifestantes. O advogado da Aldeia, Aarão da Providência , foi duramente agredido pelos policiais por simplesmente querer entrar na Aldeia e foi mantido no camburão por mais de meia hora. Os policiais usaram de forma covarde sprays de pimenta contra os indígenas que estavam negociando no muro. Mulheres foram detidas e literalmente agredidas pelo Choque. E a truculência do estado chegou ao ápice quando a Tropa de Choque invadiu a Aldeia de forma violenta, desrespeitando o prazo que havia sido acordado para a realização de um rito de despedida pelos indígenas.
Diante desta covardia, os manifestantes fecharam completamente a Avenida Radial Oeste e foram duramente agredidos com sprays de pimenta, bombas de efeito moral e balas de borracha. O abuso de poder foi tanto que desta vez nem membros da imprensa escaparam: funcionários do SBT foram atingidos por bombas de efeito moral e tiveram seus equipamentos quebrados. Uma repórter da Tv Record teve que ser levada às pressas para ser atendida pelo SAMU, pois passou mal depois de um soldado despejar spray de pimenta nos rostos das equipes de filmagens que registravam a violência. O mais irônico disso é que os agentes coercitivos do Estado já nem se preocupam mais em disfarçar a violência: pela Copa, pela Olimpíada, pelo enriquecimento ilícito de magnatas do Rio, a violência é via de regra e não importa como fique a imagem disto diante da opinião pública.
Michael Baré, primeiro cotista indígena da UERJ, membro da direção do Centro Acadêmico de História - Gestão Filhos da Pública

E sem dúvidas uma das coisas que mais nos dá desgosto é que os manifestantes que estavam sendo perseguidos e dispersados por toda a extensão da Radial Oeste por dezenas de soldados, ao buscarem refúgio no Campus da UERJ, espaço que deve estar aberto à população, FORAM IMPEDIDOS DE ENTRAR NA UNIVERSIDADE! Nossa universidade não somente vira as costas para a população ao redor do Campus, como também foi capaz de negar aos manifestantes (cuja grande parcela era composta por estudantes da própria UERJ) o direito que os mesmos têm de acessar o espaço que é publico por direito!
Que Universidade é essa que deixa de cumprir sua função social para favorecer os interesses do grande capital? Nós já tivemos no começo desse mês uma amostra dos absurdos que podem ser alcançados por essa administração pública, que está disposta a cortar bolsas que são necessárias para milhares de alunos manterem sua vida acadêmica e ameaça a educação e a saúde em geral caso os royalties do petróleo sejam perdidos, e do papel absurdo que a reitoria de nossa Universidade pode prestar, ao defender o governador e afirmar que suas arbitrariedades são em defesa da Universidade e população em geral.
Nós do Centro Acadêmico de História manifestamos nossa solidariedade aos indígenas que foram duramente reprimidos e retirados de seu sagrado solo, um local centenário concedido à preservação da cultura indígena e que agora é ferozmente atacado pelos interesses podres de uma administração que quer destruir nossa história e entregar nosso estado aos interesses alheios à população, assim como manifestamos nosso repúdio ao governo assassino de Sérgio Cabral, que está dizimando nossa população ao destruir escolas, hospitais e pontos de referência de nosso povo e também deixamos claro nosso repúdio à Reitoria de nossa Universidade, que diante de uma situação tão grave como esta, vira as costas e nega o papel que a Universidade Pública deveria exercer que é atender aos interesses do povo, para servir de capacho deste governo fascista!
Michael Baré, primeiro cotista indígena da UERJ, membro do Cahis Uerj diverge da proposta de Justiça Federal. 

2 comentários:

  1. Lamentável as atitudes truculentas que temos vistos nos últimos tempos da PM do Rio. Excelente texto companheiros, todo apoio à luta! A História-UFC está com vocês. No próximo ENEH, como sem falta, temos que tocar nestas problemas que tanto oprimem a classe trabalhadora..Grande abraço!

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  2. Obrigado camarada, a luta continua. A Aldeia Maracanã seria um dos espaços de vivência do nosso ENEH, mas infelizmente não será mais possível. Estamos na luta !

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