sábado, 29 de janeiro de 2011

25 Anos de Dedicação à UERJ - SINTUPERJ entrevista Feirreirinha

O servidor técnico-administrativo José Maria Ferreira, o famoso Ferreirinha, é o entrevistado desta edição do Jornal do Sintuperj. Ferreira viveu mais da metade de sua vida na Uerj. Aos 46 anos, é chefe de secretaria do IFCH e está há 20 anos nesta função. Ferreira entrou na Uerj como agente administrativo e foi um dos que recebeu em 2010 a medalha de 25 anos de universidade. Em entrevista ao Jornal do Sintuperj, Ferreira falou um pouco sobre a homenagem que recebeu, suas impressões sobre a atual situação da Uerj e suas perspectivas para 2011.

Sintuperj: Recentemente, você recebeu a medalha de 25 anos de Uerj. O que essa
medalha representa em termos de valorização profi ssional?

Ferreira: A gente se dedica como todos se dedicam. É uma atitude muito bacana, pois é
uma forma de reconhecer esse esforço. São 25 anos de dedicação e muito trabalho. A Uerj é como a nossa segunda casa, já que fi camos mais tempo aqui do que com a nossa família. Aqui foi meu segundo emprego. Entrei em 1º de abril de 1985. Tenho um bom relacionamento de trabalho e de amizade aqui dentro da universidade. São fundamentais essas amizades que se constroi. E isso não só na universidade em geral, como também no próprio setor. Isso facilita, você ajuda, é ajudado, aprende, ensina. É uma troca muito boa.

Sintuperj: Porque escolheu a Uerj para trabalhar?

Ferreira: Eu nunca tive planos de trabalhar na universidade. Passava próximo e pensava: “Nossa, que universidade bacana”. Então surgiu a oportunidade e eu abracei. Agora estou aqui e quero sair só quando me aposentar.

Sintuperj: Como você vê o descaso do governo do estado com a universidade?

Ferreira: A universidade já teve uma fase muito boa. Hoje a situação é triste. Eu não penso que devo ganhar uma fortuna. Quero ganhar no “conjunto da ópera”. Tem que ter uma estrutura para atender aos alunos, para atender aos professores que são nossos colegas de trabalho. Tem que ter uma estrutura boa para atender todas as demandas, inclusive o público externo que chega para saber informações sobre cursos. Esse descaso do governo fez cair a qualidade da universidade. Ela viveu uma fase tão boa e isso deixa a gente muito triste. Mas com certeza vamos conseguir recuperar.

Sintuperj: Se pudesse transformar a homenagem que recebeu em algo para a Uerj,
o que faria?

Ferreira: Daria total autonomia à universidade, em termos de recursos financeiros. A Uerj não recebe os recursos que estão aprovados pela lei. Isso é uma coisa muito triste porque a Uerj poderia ser muito melhor. Acho que a universidade cresceu muito, vem crescendo e infelizmente o governo não reconhece isso. Nossos governantes não são favoráveis à educação. Na área de saúde também há um descaso muito grande.  Nós temos um hospital que já foi, e ainda é de referência, que tinha uma emergência sensacional. Peguei toda essa fase do Hupe, em que tinha uma boa estrutura para se trabalhar. Temos ótimos profissionais, isso é inegável e por isso temos um hospital de referência. Tanto a educação como a saúde são muito pouco valorizadas pelo governo do estado.
Sintuperj: Qual o momento mais marcante que já viveu aqui na Uerj?

Ferreira: Eu tenho muitos momentos marcantes na Uerj. Posso dizer que essa homenagem de 25 anos vai fi car marcada, foi muito legal. Não só para mim, mas para todos que foram homenageados.

Sintuperj: Tem alguma mensagem para deixar para os trabalhadores da Uerj?

Ferreira: A mensagem é que temos que fazer a nossa parte e, na medida do possível,
cobrar do governo para que a Uerj tenha novamente toda a sua estrutura, bem mais amparada do que está acontecendo atualmente.

Sintuperj: Depois de 25 anos de casa, que mensagem você mandaria para o governador em nome dos servidores da Uerj?

Ferreira: Que o governo procure melhorar as nossas condições e dar mais valor aos servidores da universidade. De modo geral, que melhore as condições dos servidores do estado que também estão passando por essa fase triste, sem apoio do governo. A gente tem que fazer nossa parte do jeito que sempre fizemos, e torcer para que se consiga recuperar todas essas perdas.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Plano de Metas da Educação do Rio de Janeiro: do economicismo ao cinismo



Gaudêncio Frigotto, Vânia da Motta, Zacarias Gama e Eveline Algebaile[1]




Em entrevista ao Globo News, o Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Risolia, na sexta-feira, dia 07.01.2011, anunciou as cinco frentes de trabalho para a educação pública ao longo dos próximos quatro anos. Em extensa matéria, sob o título Choque na Educação, o jornal O Globo (08.10.2011, p. 14) detalha estas medidas. Confessamos que ficamos estarrecidos pelo caráter economicista e tecnocrático, e pela superficialidade das medidas propostas.
As cinco frentes de trabalho apresentadas teriam como objetivo atacar as questões pedagógicas, o remanejamento de gastos, a rede física, o diagnóstico de problemas e os cuidados com os alunos. As medidas mais destacadas, porém, foram a implantação de um regime meritocrático para a seleção de gestores; a realização de avaliações periódicas; o estabelecimento de metas de desempenho para balizar a concessão diferenciada de gratificações aos docentes; e a revisão das licenças dos 8 mil professores em tratamento de saúde. Ou seja, medidas que reforçam a ideia de que, no fim das contas, os profissionais da educação são os responsáveis pelos problemas educacionais, resumidos, por sua vez, aos baixos índices obtidos pela rede estadual no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Um exemplo da lógica de suspeição aí implicada é a contratação de uma empresa privada para passar um pente fino nas licenças médicas, sinalizando um duplo pré-julgamento: aos profissionais de saúde que concederam a licença e aos próprios professores que buscaram atendimento. Por certo, há implícita uma meta de quantos destes não podem passar no pente fino e deverão, agora saudáveis e motivados, voltar às salas de aula. 
Trata-se, portanto, de uma proposta que não vai ao fundamental e pega o pior atalho: premiar quem chega às metas, metas imediatistas, de lógica produtivista, que não incorporam medidas efetivas voltadas para uma educação pública de qualidade. A lógica subjacente à proposta, que já está sendo chamada de choque de gestão de administração, apenas trabalha com dois conceitos fundamentais: forçar o professorado a produzir um IDEB elevado, sem efetivamente melhorar as suas condições de trabalho, e baratear o custo da educação adotando, de imediato, a meta conservadora de economizar R$ 111 milhões dos gastos. Uma lógica tecnocrata que reconhece somente cálculos de custos e de benefícios, que vê as pessoas apenas como dados, destituídos de vontade e voz, indo de encontro às próprias bases ideológicas liberais e neoliberais que ainda consideravam o homem dotado de livre iniciativa, mesmo em sua forma de indivíduo, homo economicus.
O espantoso é que a Secretaria de Estado do Rio, com essa proposta, caminha visceralmente na contramão dos encaminhamentos concluídos nas reuniões da Conferência Nacional de Educação de 2010, do que foi acordado no novo Plano Nacional de Educação e do que vem sendo discutido no Fórum Estadual em Defesa da Escola Pública, há poucos dias instalado por dezenas de entidades ligadas à educação, à cultura, aos movimentos sociais e às instituições de ensino e científicas do estado do Rio de Janeiro.  Mais que isso, em total dissonância com a indicação que a Presidente da República, Dilma Rousseff, fez em seu discurso de posse, para enfrentar o problema da educação: reconhecer o professor como a autoridade pedagógica de fato e de direito.
Mas só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólido compromisso com a educação das crianças e jovens. (Dilma Rousseff, Discurso de posse, 01.01.2011).

Os debates e proposições aí implicados vêm afirmando insistentemente que não se fará educação de qualidade sem restituir às instituições plenas condições de funcionamento, tornando-as atrativas e adequadas ao bom aprendizado dos alunos; sem garantir, aos profissionais da educação, as condições de trabalho que favoreçam o efetivo exercício da autoria pedagógica e da atuação coletiva na construção do processo educativo escolar; sem dar sustentação a cada escola para que ela se torne o lugar de uma experiência participativa efetivamente capaz de ampliar seus sentidos como instituição pública.
Ignorando os acúmulos desse debate, a Secretaria aposta exatamente no seu contrário, impulsionando a estandardização da rede estadual, por meio da subordinação de sua organização e gestão pedagógica a critérios mercantis, e da sujeição de suas instituições e profissionais a relações de disputa e concorrência.
A estandardização da educação, dura e seriamente questionada hoje por vários setores da sociedade, camufla-se, comumente, por meio do discurso do mérito, do desempenho, da competência e da eficiência, omitindo a grave responsabilidade das próprias elites e do Estado, no Brasil, na longa história de produção reiterada de uma escola precária para a grande maioria da população. Caracteriza-se principalmente, no entanto, pelo estabelecimento de mecanismos padronizados capazes de operar o posicionamento diferenciado dos profissionais e das instituições, reiterando a produção desigual da escola por meio da sua suposta “modernização”.
A instituição de premiações, a contratação de empresas gestoras de processos, o estabelecimento de mecanismos de avaliação orientados para a produção de rankings, a instauração de regimes de trabalho que associam a concessão de gratificações diferenciadas à atuação de profissionais e instituições em processos concorrenciais semelhantes a gincanas são exemplos dos mecanismos que operam essa crescente diferenciação. Seus resultados são já bem conhecidos: a intensificação do estabelecimento de regimes e estatutos profissionais diferenciados; a desagregação do professorado em decorrência da instauração de relações concorrenciais entre professores e entre escolas; o não reconhecimento do professor como profissional capaz de dispor sobre o próprio trabalho; a subordinação da gestão educacional e da ação escolar a agentes externos não coadunados com os fins e a função pública da educação; a consolidação de padrões desiguais de formação escolar.
   Sem situar o professorado no coração do processo de resgate da qualidade da educação fluminense, melhorando significativamente o seu salário, carreira docente e condições objetivas de trabalho, não há perspectiva real de alterar de fato o atual quadro da educação básica, como sublinhou, também, o ex-Ministro de Assuntos Estratégico, Samuel Pinheiro Guimarães, no Seminário organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da UERJ – Qual desenvolvimento e Educação e para que Sociedade? – e do qual o atual Secretário de Educação do Estado participou na abertura.
Recentemente, os Senadores Pedro Simon e Cristovam Buarque apresentaram Projeto de Lei pelo qual se estenderia o mesmo reajuste salarial aprovado para os Senadores, de 61,78%, para os professores da educação básica das escolas públicas. Os Senadores tomaram como referência a menor base do piso (não reconhecida pelas entidades que representam os professores, que era de R$ 1.024,00). Esse percentual de aumento representa, de fato, uma novidade, se considerarmos que os reajustes dos profissionais do campo das políticas públicas raramente se aproximaram das nababescas auto-concessões do legislativo e do judiciário. Deve-se, porém, observar que, aplicando aquele reajuste, o piso seria de R$ 1.656,62, 16,13 vezes menor que o salário pago aos parlamentares a cada mês: R$ 26.723,13; o equivalente a 3 salários mínimos. Cabe lembrar aqui que os professores não tem o acréscimo de verba de representação para a compra de roupa, livros, correio, transporte, vale alimentação, etc. E, com certeza, o nível de escolaridade médio dos deputados e senadores não é diferente, talvez menor do que dos professores.
 Perguntas de quem não quer calar-se perante o cinismo: Por que não colocar o mesmo piso de 1.656,62 aos ministros, governadores, deputados, senadores, prefeitos, vereadores, judiciário, professores universitários, juízes, desembargadores, delegados, generais, etc. e estabelecer uma espécie de IDEB de cada função, com metas quantitativas, oferecendo ao final de cada ano mais três destes salários-base por produtividade? Quem se candidataria a tão nobres funções por essa mixaria e com tal pressão e controle? Por que não, também, estipular este valor como margem máxima de lucro para os banqueiros e empresários? Já imaginaram? Pois, senhores, estão oferecendo esta mixaria aos que cuidam da educação básica da maioria do povo brasileiro (a escola pública no segmento da educação básica – do ensino fundamental ao médio – atende mais de 80%dos estudantes), menos, certamente, dos filhos das profissões ou atividades, entre outras, listadas acima.
 Os milhares de professores que atuam na educação pública brasileira podem ser tudo, menos idiotas. O que se está propondo no Estado do Rio de Janeiro e em muitos outros estados e municípios  (entre os quais do Rio de Janeiro que se antecipou ao estado)  resulta de opções tecnocratas, apoiadas na ideia de que a educação não é um direito social e subjetivo, mas um serviço, uma mercadoria e, por isso, como a define o Secretário, um “negócio falido” como qualquer outro. Nesse quadro, os docentes são tidos como meros entregadores dos pacotes de conteúdos previamente preparados por economistas, administradores, empresários... que se assumem como “autoridades em educação”.
Professores, pais, responsáveis, jovens e estudantes, unamo-nos às dezenas de entidades que instalaram em dezembro de 2010 o Fórum Estadual em Defesa da Educação Pública no estado do Rio de Janeiro, no dia 23 de fevereiro próximo, na UERJ, para dizer alto e em bom som: não queremos ser idiotizados. Não reconhecemos essas medidas como legítimas, porque ignoram a história de luta da sociedade brasileira de quase um século pelo direito efetivo à educação pública de qualidade. 


[1] . Professores do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Vânia da Motta é professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

CAHIS AVANÇA NA LUTA PELO ACESSO A BIBLIOTECADA PÓS

Estamos avançando e ganhando aliados na luta pela isonomia de acesso ao conhecimento.

 A matéria abaixo foi publicada pela Associação dos Docentes da UERJ, em seu boletim mensal (Dezembro - 2010).
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Dois pesos, duas medidas
Os alunos da graduação de História questionam a proibição de empréstimos na biblioteca da pós-graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). O acervo só pode ser consultado no local, estando o empréstimo disponível apenas aos alunos da pós-graduação.

Segundo o diretor do Centro Acadêmico de História (Cahis), Roberto Santana, um levantamento constatou que a restrição “não existe em lugar nenhum”. Ele lembrou que os estudantes da pós-graduação têm a prerrogativa de retirar até quatro livros na biblioteca da graduação, enquanto os alunos da graduação podem levar no máximo dois exemplares. A justificativa apresentada pela direção da biblioteca, segundo Roberto, é a preservação do acervo.
O Cahis vem tentando reverter a falta de isonomia dentro do corpo discente. Em maio deste ano, após reuniões do Conselho do IFCH, o centro acadêmico enviou um ofício à direção do IFCH, solicitando utilização dos livros da biblioteca da pós-graduação de forma igualitária pelos alunos.
A coordenadora da pós-graduação de História, Maria Teresa Toríbio, manifestou -se favorável à reivindicação dos estudantes. Palavras reforçadas pelo diretor do IFCH, José Augusto: “Não há objeção de que a graduação utilize os livros da pós-graduação”. Ele explicou que há apenas um problema operacional impedindo que o acervo seja tomado por empréstimo. “Os sistemas da biblioteca central (Rede Sírius) e da biblioteca da pós não dialogam, portanto não há um controle desta biblioteca sobre os alunos da graduação”, explicou.  


Questionada pelo Boletim Asduerj, a bibliotecária Regina Tinoco, diretora da rede Sírius, revelou que há anos a rede vem negociando a transferência dos livros da biblioteca de pós-graduação para a biblioteca central do IFCH. “Enviamos um documento à Sub-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (SR-2), informando que a biblioteca do IFCH está dentro dos padrões da Capes e do MEC para receber o acervo”, relatou Regina. Em resposta, a SR-2 solicitou o translado dos livros da biblioteca da pós-graduação para a biblioteca do IFCH, já com a aprovação das coordenações de todos os departamentos do IFCH.
Regina disse que os livros da biblioteca da pós-graduação precisam ser inventariados para serem transferidos. “Vamos começar com o translado dos livros que já foram inventariados pela Rede Sírius para depois transferirmos o restante”, garantiu.
É importante que esse processo que vem sendo encaminhado ocorra o mais rápido possível, pois os estudantes de História que não têm possibilidade de passar o dia na universidade são os mais prejudicados, já que também não podem levar os livros para estudar em casa.


Fonte: Boletim da ASDUERJ - Matéria de Átila Campos

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Cuba segue "contrariando" o Jornal Estadão

Cuba anuncia primeira vacina contra câncer de pulmão


Cuba registrou a primeira vacina terapêutica contra o câncer de pulmão avançado no mundo, nomeada CimaVax EGF, com a qual mais de mil pacientes receberam tratamento, anunciou nesta segunda-feira o jornal oficial "Trabajadores".
A responsável pelo projeto no CIM (Centro de Imunologia Molecular) de Havana, Gisela González, explicou que a vacina oferece a possibilidade de transformar o câncer avançado em uma "doença crônica controlável".
CimaVax EGF é o resultado de mais de 15 anos de pesquisa direcionada ao tumor e não provoca efeitos adversos severos, precisou a especialista.
"A vacina é baseada em uma proteína que todos temos: o fator de crescimento epidérmico, relacionado com os processos de proliferação celular, que quando há câncer estão descontrolados", detalhou.
González indicou que como o organismo tolera "o próprio" e reage contra "o estranho", por isso tiveram que fazer "uma composição que conseguisse gerar anticorpos contra esta proteína".
A vacina se aplica no momento no qual o paciente conclui o tratamento com radioterapias e quimioterapias e é considerada "terminal sem alternativa terapêutica" porque ajuda a "controlar o crescimento do tumor sem toxicidade associada", precisou.
Além disso, pode ser utilizada como um tratamento "crônico que aumenta as expectativas e a qualidade de vida do paciente".
A pesquisadora declarou que após alcançar seu registro em Cuba, atualmente o CimaVax EGF "progride" em outros países e que avalia-se a forma de empregar seu princípio em tratamentos contra outros tumores como os de próstata, útero e mamas. 

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/857507-cuba-anuncia-primeira-vacina-contra-cancer-de-pulmao.shtml

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Jornal "Estadão" mente sobre a formação de médicos cubanos.

Em editorial, Estadão deprecia formação de médicos cubanos

5 janeiro 2011
Enquanto o Estadão questiona a qualidade da formação dos médicos cubanos, o mundo reconhece o contrário.

Médicos cubanos trabalham intensamente para salvar vidas no Haiti

No dia 03 de janeiro de 2010 o Estadão soltou um editorial intitulado “Médicos Reprovados”, o qual aponta, entre outras distorções, que “as faculdades cubanas – a mais conhecida delas é a ELAM (Escola Latinoamericana de Medicina) – são estatais e seus alunos são escolhidos não por mérito, mas por afinidade ideológica”, afirmando que os brasileiros que lá estudam “não se submeteram a um processo seletivo, tendo sido indicados por movimentos sociais”.
O editorial diz ainda “que os médicos por ela diplomados não teriam condições de exercer a medicina no país…”, que “para as duas entidades (Conselho Federal de Medicina e Associação Médica Brasileira) as faculdades de medicina de Cuba… teriam currículos ultrapassados, estariam tecnologicamente defasadas e não contariam com professores qualificados”. O Ministério da Educação também é questionado perante o caso. “Custa crer que setores do MEC continuam insistindo em pôr a ideologia na frente da competência profissional, quando estão em jogo a saúde e a vida de pessoas”.
Em contrapartida, é publicado três dias antes, num conhecido jornal britânico The Independent, de inquestionável prestígio nos meios liberais da Grã-bretanha, um atrevido artigo da jornalista Nina Lakhani, intitulado “Médicos cubanos no Haiti envergonham o mundo”.
O artigo diz que os cubanos “São os verdadeiros heróis do desastre do terremoto do Haiti, a catástrofe humana às beiras dos Estados Unidos perante a qual Barack Obama prometeu uma monumental missão humanitária dos Estados Unidos para aliviá-la”. No entanto, os heróis acerca dos quais falamos são cidadãos do arquiinimigo dos Estados Unidos. Cuba, cujos médicos e enfermeiras fizeram com que os esforços dos Estados Unidos sejam motivos de vergonha.
“Uma brigada médica de 1 200 cubanos está trabalhando em todo Haiti, devastado pelo terremoto e infestado pela cólera, como parte da missão médica internacional de Fidel Castro, que fez com que o Estado socialista ganhasse muitos amigos, mas pouco reconhecimento internacional.”
“… os organismos de ajuda internacional estavam sozinhos na luta contra a devastação que matou 250 000 pessoas e que deixara sem lar a cerca de 1,5 milhões. [...] profissionais da saúde cubanos tem estado no Haiti desde 1998, [...] no meio da fanfarra e da publicidade em torno da chegada da ajuda dos Estados Unidos e do Reino Unido, centenas de novos médicos, enfermeiras e terapeutas cubanos chegaram sem que ninguém quase falasse deles…”
“Estatísticas publicadas na semana passada mostram que os médicos cubanos, trabalhando em 40 centros através do Haiti, atenderam mais de 30 000 pacientes de cólera desde outubro. Eles são o maior contingente estrangeiro, recebendo aproximadamente 40 por cento de todos os pacientes que sofrem cólera. Outro grupo de médicos da Brigada cubana ‘Henry Reeve’, uma equipe de especialistas para casos de desastres e emergências, chegou recentemente quando foi evidente que o Haiti estava lutando por encarar a epidemia que já matou centenas de pessoas.”
“…Cuba formou 550 médicos haitianos gratuitamente na Escola Latino-americana de Medicina (ELAM), uma das mais radicais iniciativas médicas do país. Atualmente outros 400 médicos são preparados nessa escola, que oferece educação gratuita, incluindo livros de graça e um pouco de dinheiro como diária, a qualquer pessoa o suficientemente qualificada, que não possa estudar medicina em seu próprio país”.
“John Kirk é um professor de estudos sobre América Latina na Universidade de Dalhousie, no Canadá, que investiga sobre as equipes médicas internacionais de Cuba. Ele disse: ‘a contribuição de Cuba no Haiti é como o maior segredo do mundo. Sobre eles quase não se fala, apesar de que estão fazendo uma boa parte do trabalho pesado’.
Contraditoriamente, o próprio Estadão também publicou ainda no dia 03 no seu jornal on line a seguinte matéria: “Cuba registra a taxa de mortalidade infantil mais baixa de sua história”
Cuba: taxa de mortalidade infantil baixa a 4,5 por mil nascidos vivos
País encerrou 2010 com um índice de 4,5 óbitos para cada mil crianças nascidas vivas
HAVANA – Cuba terminou 2010 com uma taxa de mortalidade infantil de 4,5 por mil nascidos vivos, a mais baixa da história do país, segundo dados oficiais divulgados nesta segunda-feira, 3.
“A taxa atingida não é mais que a confirmação de um colossal esforço de um país pobre e criminalmente bloqueado”, ressaltou o jornal Granma, órgão oficial do Partido Comunista.
O impresso assinala também, sem detalhar números regionais, que Cuba alcançou o índice de “nação das Américas com mais baixa mortalidade infantil, indicador internacional que mede a qualidade com que uma sociedade atende e protege as gestantes e os recém-nascidos”.
Por região, a taxa mais baixa de mortalidade infantil foi encontrada na província de Villa Clara, no centro do país, com 2,5 por mil nascidos vivos.
Os registros apontam que, em 2010, nasceram 127.710 cubanos, número que comparado com o ano anterior representa uma diminuição da natalidade de 2.326 crianças. Além disso, indica que as despesas de saúde pública por habitante – que eram de 3,72 pesos (ou US$ 4,08) por pessoa em 1959, em uma nação com 7 milhões – subiu para 576 pesos (ou US$ 622) per capita para os mais de 11,2 milhões de cubanos atualmente.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

PRESTAÇÃO DE CONTAS DO CAHIS NOV/DEZ 2010

Atenção estudantes!

O CAHIS fará a prestação de contas no Blog, excepcionalmente.

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Novembro/2010

Saldo Inicial: R$ 1269,17 + R$ 400,00 (aluguel da xerox) = R$ 1669,17

Gastos: R$ 85,50 (papel para certificados) + R$ 19,80 (revistas) + R$ 25,00 (táxi para devolução da exposição sobre Luis Carlos Prestes) + R$ 9,00 (canetas) + R$ 6,00 (água para o debate entre as chapas) + R$ 18,00 (táxi para banner da I Copa João Saldanha) + R$ 1,30 (giz) + R$ 100,00 (parte do CAHIS para aluguel da quadra na I Copa João Saldanha) + R$ 20,00 (cópia das chaves) + R$ 55,00 (passagens) = R$ 339,60

Saldo Final: R$ 1669,17 – R$ 339,60 = R$ 1329,57

Dezembro/2010

Saldo Inicial: R$ 1329,57 + R$ 400,00 (aluguel da xerox) = R$ 1729,57

Gastos: R$ 47,50 (papel para certificados) + R$ 19,80 (revistas) + R$ 63,00 (devolução de dinheiro não utilizado na VIII Semana de História UERJ 2010 à SR-1) + R$ 30,95 (passagens) = R$ 161,25

Saldo Final: R$ 1729,57 – R$ 161,25 = R$ 1568,32 (em caixa)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A violência urbana, segundo Brizola



O problema de segurança pública adquiriu essa importância, esse nível de gravidade, com a ditadura. Antigamente, uma pessoa podia andar tranqüilamente na rua, praticamente o assalto não existia. Assalto a banco? Isso não existia aqui! Realmente isso era assunto de cinema. As senhoras andavam nas ruas, lá no centro, com as suas bolsas. Havia naquele tempo os chamados punguistas: era os batedores de carteira, eram os passadores do conto do pacote, do conto do vigário, enfim, eram atividades até ingênuas, que eram motivo de crônicas, que todo mundo até apreciava naquele tempo.

Não existia esse clima de violência, de assassinatos, de homicídios. Isso veio com a ditadura. E coincidiu com o agravamento da situação social. E com o empobrecimento da população, com a decadência do sistema educacional. E com a explosão demográfica, que foi agravando, multiplicando esta ordem de problemas.

Receita por receita, os militares tentaram tratar isso com violência, enfrentando de uma forma primária o assunto, até com helicópteros sobre as favelas, sobre as áreas carentes... Agora andam falando em pena de morte, que já existe aqui, como em nenhum outro país!

O Brasil é campeão na utilização da pena de morte, com a quantidade de assassinatos que estão ocorrendo. E o problema se agravando, a situação cada vez pior! Então, vejam, essas duas questões correm paralelas, como grandes males nacionais, como situações absolutamente intoleráveis que condenam, estão estiolando a vida brasileira. Principalmente nas grandes cidades.

Veja o Rio, como tem sido prejudicado por isso. Então essa questão não pode ser realmente analisada como até agora, desconhecendo certos aspectos que estão em águas mais profundas. Acho que a questão educacional é conseqüência de uma cumplicidade das elites brasileiras, que querem o povo brasileiro ignorante. E reagem até contra um programa como esse dos CIEPs. Há gente que tem esse fundo cultural, que não aceita que as crianças, as crianças da nossa pobreza, de nossas populações negras, tenham escola de nível de classe média como tem os filhos deles! Não aceitam.

A floresta de Samora Machel

Quando estive em Moçambique, isso me serviu para entender muito o problema. Samora Machel, que era um ser humano admirável, me disse: "Olha, Brizola, aqui estamos utilizando o idioma do colonizador para fazer a nossa unidade e para nos conhecermos! Como um instrumento de reconhecimento mútuo. Porque são muitos idiomas, dos diversos grupos populacionais que possuímos. Mas, veja, nós agora estamos universalizando isto; mas antes, o colonizador usou, durante séculos, o seu idioma para nos colonizar".

Eles só ensinavam português para uma pequena camada que trabalhava com eles: os empregados domésticos, os motoristas, os carregadores, os serviçais de maneira geral, os trabalhadores que formavam a base da economia e da sociedade colonial que existiu lá até 1975, ano da independência de Moçambique. O idioma português era ensinado restritamente pelo colonizador aos moçambicanos que prestariam serviços a ele. Quanto ao resto da população, os colonizadores nem sabiam quantos eram. Nem queriam saber quantos moçambicanos viviam por lá, pelos matos, pela floresta. Eles eram chamados de "indígenas", não tinham documentos, não andavam nas cidades, e pronto, ninguém se preocupava em sabe se estava doentes, com fome, quantas crianças nasciam, quantas morriam, nada! Viviam à parte da sociedade colon ial, ninguém sabia se matavam algum elefante para comer, para se salvar ou não, quantos viviam nas florestas, pelos matos! Os colonos brancos não tomavam conhecimento. Este é o perfil do próprio colonialismo.

Vejam agora a questão no Rio de Janeiro. Existem aqui duas sociedades: tem uma que é a nossa, onde circulamos, conhecemos pessoas. Estamos aqui nos controlando, conhecemos fulano, beltrano, filho de sicrano, temos carteira de identidade, etc. E se uma pessoa falta, damos falta dela. Se essa pessoa é vítima da violência, todos nós sabemos e ficamos revoltados.

Descendo na escala social, nos deparamos com um outro mundo, subterrâneo, parecido com a floresta descrita por Samora Machel. Lá ninguém sabe quantos matam, quantos morrem, quem manda matar, quem faz o quê. Uma sociedade civilizada que se preze pode conviver com 20, 30, 40 assassinatos diários? Jovens mortos com balas de guerra, muitas vezes pelas costas, e ninguém nem sabe de nada? As notícias sensacionalistas sequer citam nomes e os corpos são jogados em valas ou lixeiras, enquanto famílias não reclamam, temendo os executores. O que é isto, quem mata? Quem morre? Esta é a vida da floresta do Samora Machel?

Aqui, geralmente, tudo se resolve com a explicação: "Ah, isto é disputa por ponto de droga, o traficante tal contra fulano". O problema é que esta explicação resiste à lógica mais elementar. Que diabo de cidade é essa que se impregnou dessa forma? Qual é o lugar do mundo onde se mata dessa maneira? Existe tanto tráfico, tanta gente assim envolvida com banditismo? Podemos aceitar isso para um país como o nosso? Devemos conviver com a floresta de Samora Machel?

Francamente, acho que temos que ir em águas mais profundas. E os vícios? Nó estamos acostumados com os vícios dos próprios serviços de segurança. Num quadro desses, até os bons policiais estão sendo mortos. Isso precisa ser drasticamente saneado! Olhem, não sei de onde sai tanta arma, não sei que tráfico é este, mas sei que procuram criar a idéia de que as favelas são um ambiente de vício! (14-05-91)

As elites fizeram os guetos

Aí está uma questão importante para os amigos repórteres internacionais. Isto que podíamos considerar uma espécie de cultura praticada pelas classes dirigentes de nosso país, levou as favelas, as comunidades pobres, a serem consideradas guetos origem de todos os males. O fato justifica todas as tropelias, todas as demonstrações de força do aparelho policial nas favelas.

Essas ocorrências, conforme a época, têm uma explicação. Agora estamos na fase da droga, do tráfico. Claro que o problema existe, não só a droga, como o tráfico, como a utilização das favelas e até de crianças, nessas atividades criminosas. Mas procuram aproveitar-se dessas ocorrências, exagerando-as, criando iniciativas para demonstração de poder. Para punir e intimidar as pessoas que vivem uma situação que, sob muitos aspectos, é intolerável e dá a elas até o direito de reivindicar.

Eu me criei em bairros pobres, onde as pessoas eram boas, viviam se visitando, conversando, solidárias, ninguém pensava em fazer violência. Eu me criei de pé no chão, como essas crianças que estão aí. Até tenho o pé grande demais porque me criei com o pé à vontade, pisando. O meu dedão é aberto, como de todas as crianças que se criam de pé no chão. Será que mudou tudo isto?! Ou estão mudando tudo isto? Estão oprimindo essas populações? Como é isto? Será que não estamos aqui envoltos por um véu, por um nevoeiro de obscurantismo e não estamos nos dando conta do que está acontecendo? (30-06-93).

Natureza juvenil dos crimes

Na minha opinião, pelo menos 80% da criminalidade existente no Rio de Janeiro são de natureza juvenil. Isso não quer dizer que adultos de 18, 20 ou 22 anos estejam excluídos da estatística. Muitos deles fazem parte de quadrilhas, assaltando residências, assaltando bancos e praticando crimes. Mas esta camada, especificamente, é a camada do Moreira (Moreira Franco, governador que sucedeu a Brizola, em 1983): eram crianças e muitos estudavam em CIEPs que foram fechados, abandonados. Essas crianças e muitos estudavam em CIEPs que foram fechados, abandonados. Essas crianças todas saíram e quem sabe quantas delas estão por aí, perdidas na bandidagem.

O quadro que existe é de violência juvenil, de criminalidade juvenil. As crianças partem da periferia para o centro porque lá há uma população imensa e a situação difícil as empurra para cá. Elas não param de vir e acabam passando pelo meio de nossas pernas, tantas são. Não é arrastão, um garoto desses ataca um chefe de família qualquer, rouba uma bolsa de mulher, o problema é rotineiro. E se tiver por ali um pedaço de madeira, um porrete qualquer, chefe de família vai dar na cabeça da criança?

É uma situação terrível e não tenhamos esperanças de que o problema um dia diminua. Ele não vai diminuir, só vai crescer. Vai aumentar porque é cada vez maior o número de crianças vindas da periferia. A única saída é criarmos colégios tipo CIEPs que atraiam, que absorvam, que eduquem essas crianças. Fazer o que os povos dignos fazem: proteger as crianças, colocando-as em escolas dignas, não permitindo que elas andem pelas ruas.

Na França, criança não pode ficar na rua

Na França, nos dias de semana, criança em idade escolar é proibida de andar nas ruas. Se andar, o juiz pega e quer logo saber: por que está na rua? "Não, eu não fui ao colégio." E ele, de imediato, encaminha a criança para o pai ou a mãe, ou direto para o colégio. E se a criança não está matriculada em escola alguma, ele providencia para que isso seja feito.

Aconteceu isso com o José Maria Rabello, nosso companheiro, no exílio na França. Recém tinha chegado com os filhos, quando um deles foi pego pela polícia e encaminhado ao juiz, que o convocou. Lá, soube que na França, criança em idade escolar, não pode andar solta pelas ruas. O mesmo acontece na Alemanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Agora, aqui não! É isso que vemos. Porque na periferia onde vivem, não há escola, não há nada. Outro dia, uma pessoa me construiu o seguinte quadro, que na verdade dá idéia aproximada do que está acontecendo: vamos admitir que estejamos vivendo numa grande cidade que, ao lado, tem uma área úmida, com bastante água parada. E ali se criam muitos mosquitos. A cidade está aqui, os mosquitos estão lá. De repente começa a ventar de lá para cá. Um vento cada vez mais forte, que progressivamente vai inundando a cidade de mosquitos.

As pessoas então começam a se defender dos mosquitos com uma reação primária, até irracional. Usando aquelas bombinhas de flits. Lembram, aquelas manuais? Tchii, tchii, tchii... Só que não conseguem vencer os mosquitos. E aí resolvem apelar para os sprays, mais modernos, mas só podem usá-los dentro de casa. Como combater aquela quantidade de mosquitos lá fora com spray? Aí a única saída é as pessoas passarem a viver confinadas, dentro de suas casas, para se defenderem dos mosquitos.

Isto dá uma idéia da periferia das grandes cidades brasileiras onde nascem tantas crianças. E essas crianças precisam ter um destino digno. Se nasceram, foram produto do amor. Por que não dar a elas um destino digno? Como é que um país como o nosso pode gastar 38 milhões de dólares para o Sr. Roberto Marinho construir um estúdio fantástico de televisão e, ao mesmo tempo, deixar as crianças permanecerem no pântano?

É por isso que elas estão vindo em nossa direção, em número cada vez maior. E sabem quem, na vida real, faz o papel de vento? A televisão. O vento é a televisão. Estamos praticando um haraquiri social, um suicídio coletivo. (05-05-92)

Pior do que o apartheid

Olhem, quando esteve aqui o Nelson Mandela, esta personalidade admirável, falei com ele: "Sr. Mandela, me diga uma coisa, o senhor poderia me dizer se lá na África do Sul, onde está o apartheid, onde está a mais horrenda repressão contra os humildes, contra os pobres em nome do racismo, inadmissível, me diga uma coisa: quando matam, como é que fazem? As famílias recebem os corpos? Há velório? Há enterro cristão para esses mortos? As pessoas sabem os nomes dos mortos?"

Ele me disse: "Sim, senhor". Insisti: "As pessoas sabem dizer que o morto é o fulano, filho da dona fulana que mora ali?" Ele confirmou: "Sim, senhor". Acrescentei: "Então vocês identificam todos os que matam?" Também confirmou isso: "Sim, senhor, até fazemos protestos: esses enterros, esses velórios são todos momentos de protesto, de luta para nós". Aí quem ficou curioso foi ele: "Mas por que me pergunta isso?" Tive que responder" "É por aqui matam-se aos milhares, todos rapazes, jovens, escurinhos, miscigenados, ou negros, e as famílias sabem que mataram, não são identificados, não têm enterro cristão compatível". Ele ficou surpreso: "Mas é verdade?". Chamou um secretário para tomar nota. Eu, por minha parte, pedi para chamarem o senado Abdias do Nascimento, um líder brasileiro das popul ações negras, e pedi que confirmasse o que dizia.

Então digo o seguinte: nós íamos nos conformando porque líamos todos os dias isto nos jornais, além de ouvirmos no rádio e vermos na televisão. A maioria se acostumou. Sem falar nos programas de rádio e televisão específicos tipo "Toma, isto é para o traficante tal, a boca cheia de formiga". Coisas assim... Programas brutais que, de certa forma, criam um oba, oba. E as pessoas vão morrendo, vão caindo, vão desaparecendo...

Ontem mesmo tomamos conhecimento, está nos jornais de hoje, de que até mesmo uma autoridade, uma promotora, teria usado essas palavras: "Ah, bandido é na cadeia ou na valeta!" Na cadeia ou na valeta, ainda repetiu. O que é isto? Estamos despertando para isto, que não pode continuar. Acho que agora nós vamos fazer as famílias aparecerem. Volta e meia quando ando aí pelos bairros, tem uma pobre mãe que se agarra em meus braços e me diz: "Governador, não tenho notícias do meu filho, não sei o que foi feito do meu filho, eu sei que tem mortes lá todos os dias, que eu podia ir lá olhar, mas também não vou porque eu tenho medo. Tenho o Joãozinho, o Antoninho, o fulano, o beltrano, tenho medo que levem os outros"

O que é isto? E quantos assassinatos múltiplos desse tipo foram cometidos? Vocês se lembram daquele ali no caminho que conduz à residência de D. Eugênio? Foram sete! Sete jovens negros... Chego a perguntar: como é que podem matar sete jovens de 16, 17 e 20 anos, fortes? Quantos precisaram para agarrar, para matar? Como é que foram mortos? Será que ninguém viu, nem ouviu os tiros? Chego a pensar até na existência, como disse aqui, de uma câmara à prova de som onde matam e depois carregam para jogar por aí. E como é que podem matar sete jovens, se eles, sabendo que vão morrer, adquirem força de três? É preciso quatro, cinco para agarrar alguém que sabe que vai morrer (30-06-92)

Extermínios e seqüestros andam juntos

Permitam que diga: em minha opinião, esses seqüestros são uma atividade paralela promovida pelos integrantes dos grupos de extermínio. Para essas atividades criminosas torna-se necessária a associação, a estruturação para cometer atos. No caso da matança, é preciso seqüestrar em algum lugar, conduzir, matar, abandonar cadáveres e, sobretudo, fazê-los desaparecer. É necessária uma ação rápida, de tal modo que nenhuma criança consiga ver.

Evoluir dessa ação criminosa para o seqüestro propriamente dito, para o assalto a banco, a residências, a estabelecimentos empresariais, a carros-forte, é um simples passo. Para mim, é a mesma gente: a do seqüestro, a dos assaltos a banco, dos grupos de extermínio, esquadrões da morte, responsáveis por esta matança e também dos assaltos organizados que surgem aqui e ali contra estabelecimentos empresariais, contra empresas ou contra residências. Antigamente as polícias eram patronais e locais: com o governo Vargas e com a revolução de 30 é que a policia foi se transformando numa instituição, não dominada pelos patrões e não de natureza local e municipal. Foi adquirindo realmente uma expressão institucional. E retornar para a polícia patronal como ocorreu durante a ditadura, criando ess a quantidade imensa de serviços de segurança, ao ponto que hoje no Rio de Janeiro, existe o maior número de seguranças particulares, polícias particulares, do que integrantes das instituições policiais. E como surgiu tudo isto? Isto tudo surgiu da intenção de aniquilar as pessoas. Primeiro surgiram os grupos de extermínio. Isto vem de muito longe, e há muito tempo que se fala: eu era jovem, vinha ao Rio de Janeiro de vez em quando, morava no Rio Grande do Sul, e aqui já se falava em esquadrão da morte. Houve aquela tentativa de matar mendigos, sempre uma doutrina no sentido de eliminar – em vez de cuidar dos mendigos, em vez de cuidar dos mendigos, em vez de encarcerar os jovens delinqüentes, ou mesmo criminosos, matar! Foi esta doutrina que formou, que incentivou, que criou, que acabou desenvolvendo esta atividade criminosa. (17-07-91)

(Trechos do livro "Com a palavra Leonel Brizola" - Páginas 199-206 - Autor: Osvaldo Maneschy, Madalena Sapucaia e Paulo Becker