Carta Aberta do Centro Acadêmico de História UERJ
Gestão Filhos da Pública IV
Nas últimas semanas, o CAHIS-UERJ tem estado sob constante ataque de determinados grupos políticos que espalharam mentiras e calúnias não só pelo corredor do 9º andar, mas também pela Internet. Cientes de que os estudantes do nosso curso conhecem muito bem a índole e o trabalho da gestão de nosso Centro Acadêmico, vendo que não há o mínimo eco dentro da História para tais inverdades e sem a menor vontade de colocar mais lenha na fogueira para algo que os estudantes do nosso curso não deram a menor importância, nos mantivemos calados até o momento.
Contudo, após panfletagens no corredor nos difamando e traições pelas costas de pessoas as quais confiamos durante muito tempo, chegou a hora de respondermos e revelarmos alguns fatos que podem não estar claros para todo o corpo discente. O ataque que vem ocorrendo sistematicamente nas últimas semanas não é produto de loucura, nem se restringe à gestão, mas sim, é muito bem arquitetado e ameaça toda a luta dos estudantes de história.
Toda a confusão se inicia devido à matéria “ENEH 2010-Sem Limites”, publicada no "Caderno de Segunda" do “Jornal do CAHIS” número 22, edição de setembro de 2010. As queixas de uma aluna do curso são de que a matéria traz conteúdo machista, homofóbico, racista e xenófobo, ao se referirem à cidade de Fortaleza e aos participantes do encontro. Disse a estudante que taxamos os presentes ao ENEH de “bandido” e “viciado”.
Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso e que frequenta o curso, sabe que “bandido” e “viciado” foram palavras usadas no texto se referindo a brincadeiras internas com participantes da delegação da UERJ no ENEH. Pessoas (inclusive uma delas membro da Gestão) que em nenhum momento se sentiram ofendidas, nem com as brincadeiras dos seus colegas, nem com a matéria do jornal. Provavelmente por saberem distinguir brincadeiras de reais ofensas.
Em moção de repúdio entregue pela aluna queixante à Gestão do CAHIS, há uma clara manipulação de palavras para demonstrar o nosso texto como preconceituoso. A aluna, e quem mais a apoiou a fazer a moção, mexe no texto original do jornal para dizer que taxamos a homossexualidade de anormal e depreciamos a população nordestina. Curioso como os estudantes homossexuais que foram ao ENEH e são alunos do nosso curso nos procuraram para dizer que não se sentiram ofendidos. Mais curioso que membros destacados da Gestão (responsável pela publicação do jornal), como Roberto e Bruno, são filhos ou netos de retirantes nordestinos, cometendo assim, na visão de alguns, um insano ato de autopreconceito.
Quanto ao suposto machismo em nos posicionarmos contra a criação da disciplina obrigatória “história da mulher”, aprovada na plenária final do encontro, realmente trata-se de um posicionamento político nosso. Na opinião, não só da gestão, mas de toda a delegação da UERJ presente ao ENEH e que acompanhou as plenárias, a história da mulher deve ser incorporada à história do Brasil e não figurar como disciplina à parte.
Não somos a favor de sectarizar as lutas. Não somos a favor de estudarmos a “história do pensamento vago”, enquanto poderíamos preencher o programa das nossas disciplinas com a resistência feminina e negra, por exemplo. Por que, ao estudarmos Brasil Império, não vemos a resistência negra? Parece que a abolição foi um presente da Princesa Isabel. Ou por que, em história contemporânea, não aprendemos que foi o movimento feminino operário que criou o Dia Internacional da Mulher (08 de março)? Será que teríamos que fazer disciplinas a parte para estudarmos esses tópicos, ou, na nossa proposta, esses temas é que deveriam ser os pontos abordados nas disciplinas que já possuímos?
Fato é que nada disso justifica nos tachar de machistas, racistas ou qualquer outra coisa que fomos covardemente chamados nos últimos dias pela UERJ. “A Prática Como Critério da Verdade”, já dizia Lenin. Vemos quem é quem no dia a dia, a partir das nossas ações. Vejamos, portanto, algumas ações racistas, homofóbicas e machistas do CAHIS. Exatamente na mesma edição do "Jornal do CAHIS", no Editorial, lamentamos a pichação homofóbica (“fulano de tal é um ‘viado’ aidético”) surgida no banheiro masculino há alguns meses, e a classificamos como “preconceito medieval que insiste em persistir”.
Os apressados em crucificar o CAHIS também, deliberadamente, não leram, ainda na mesma edição machista, racista e homofóbica do jornal, o texto do membro da Gestão Gabriel (“A marcha fúnebre prossegue”), em que o mesmo convoca todos os estudantes do curso, entre outras coisas, a estarem de luto por aquelas “vítimas de todo o tipo de opressão”. Meses atrás, o CAHIS denunciou, no mesmo jornal taxado de "racista, machista e homofóbico", o ataque às cotas por figuras nefastas da cena política brasileira, como Demétrio Magnoli e a família Bolsonaro, não como simples posição acadêmica, mas pelo racismo que não conseguem esconder. E, para finalizar, uma das mesas-redondas da VIII Semana de História promovida pelo CAHIS recentemente foi (vejam só que opressivo!) “Direitos Civis, história e ‘minorias’: mulheres, negros e LGBTT”. Vamos esperar agora que os detratores do CAHIS apresentem suas mobilizações feitas na UERJ contra as opressões, sabendo que provavelmente iremos esperar em vão.
Mas há um problema mais grave. Existe uma linha tênue entre a inocência e a falta de caráter. A aluna pivô das críticas contra o CAHIS estava presente no ENEH, votou a favor da nossa proposta contra a sectarização das lutas, segundo os demais presentes alunos da UERJ, e sabe muito bem que as referidas brincadeiras não são “um ataque aos estudantes no encontro”, mas sim, típicas piadas individuais de colegas de curso em um ônibus na estrada. Por que ela escreveu tudo isso, sendo que estava presente em todos os momentos em que essas brincadeiras nasceram?
Por que, nos perguntamos, tais críticas aparecem bem no momento em que são anunciadas as eleições do CAHIS? Por que, antes de qualquer discussão interna, a referida aluna escreveu uma carta de ameaça à gestão, exigindo retratações, panfletou uma moção de repúdio no corredor e divulgou a tal moção para vários C.A.s do Brasil afora pela Internet, a qual só tomamos notícia por busca no Google? Trata-se de um plano deliberado de desestabilização e difamação da Gestão que dirige o CAHIS.
Bem, comunicamos a todos os interessados que a referida aluna que criou toda essa discussão procurou, por mais de uma vez, os membros da Gestão, antes e depois do ENEH, pedindo para fazer parte da próxima direção do CAHIS. Nada de novo, visto que nos últimos anos fomos assediados por vários partidos políticos que “pediram” para que “colocássemos” o aluno X ou Y na gestão do CAHIS. Sempre obtiveram um não como resposta.
Em nosso projeto de Centro Acadêmico, só há espaço para o trabalho sério e honesto. O CAHIS, enquanto estivermos à frente da direção, nunca se tornará correia de transmissão partidária, nem espaço de aparelhismo por parte de grupos políticos, como outros C.A.s se tornaram. Não adianta se colocar como representante do partido político tal e não ter prática dentro do curso.
Para participar de uma chapa e consequentemente de uma gestão conosco, é preciso mostrar, no cotidiano do curso, seriedade e vontade de trabalhar. Pertencer a partidos ou ter experiência de militância fora da universidade de forma alguma supera a dedicação diária no curso. E é isso que legitima uma gestão frente ao corpo que ela representa As lutas e a confiança se constroem na coletividade. Dessa forma é que as assembleias do CAHIS estão cada vez mais cheias e alunos de fora da gestão pegam tarefas para realizarem, como ocorreu recentemente com o Cine-Clube, a revista acadêmica, as reivindicações como a RAV-92 e a produção de artigos para o "Jornal do CAHIS", sem contar a participação nos eventos.
O oportunismo eleitoreiro de certos grupos políticos chegou ao curso de História da UERJ. Mas nada há a temer. Por mais que se utilizem da difamação e da covardia, os “militantes profissionais” não sobrepujarão nosso trabalho construído ao longo dos anos, nem as calúnias proferidas pelos corredores nos desanimarão. “Os cães ladram, mas a caravana passa”. Nos vemos na luta, porque podem ter certeza, é onde sempre nos encontrarão.
Centro Acadêmico de História UERJ – Gestão Filhos da Pública IV