quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Golpe em Honduras


Presidente Zelaya
O povo nas ruas


No último dia 28 de junho ocorreu um golpe de estado em Honduras, país localizado na América Central. O fato nos relembra a sucessão de interrupções violentas sobre regimes democraticamente eleitos na América Latina que aconteceram ao longo do século XX.

No entanto, o golpe em Honduras é o primeiro naquela região do globo desde o fim da guerra fria. Os países do istimo presenciaram uma série de golpes promovidos pelos Estados Unidos e as elites locais atreladas ao mercado financeiro mundial, com o objetivo de retirar do poder, governos com projetos liberais de desenvolvimento autônomo e frear a crescente influência do socialismo, mais forte após a Revolução cubana de 1959 e sua posterior opção pelo socialismo e a parceria com a União Soviética.
Resistência popular ao golpe


Nos anos 1970 e 1980, a situação se radicalizou ainda mais, com as guerrilhas em diferentes países como Guatemala, El Salvador e Nicarágua, sendo esse último, palco da tomada do poder pelo Exército Sandinista de Libertação Nacional. O então presidente estadunidense, Ronald Reagan, declarou guerra aberta aos movimentos guerrilheiros, através dos irãs-contras (paramilitares de direita que confrontavam os guerrilheiros) e esquadrões da morte, que chacinaram milhões de pessoas em várias nações da região.

A Nicarágua, liderada pelos sandinistas, ganhou na corte mundial o direito a uma indenização dos Estados Unidos por o envolvimento deste último nos ataques a seu país. Obviamente, os norte-americanos não pagaram. Enquanto isso, Honduras servia justamente como base para os paramilitares de direita que devastavam os países vizinhos. O perfeito retrato da república das bananas: país miserável, com boa parte de suas propriedades fundiárias nas mãos de companhias estadunidenses, além de várias bases militares norte-americanas, com produção econômica e determinações políticas de acordo com as diretrizes de Washington.

Contudo, nos últimos anos o cenário político hondurenho modificou-se um pouco. O atual presidente Manuel Zelaya guinou seu governo cada vez mais à esquerda, contrariando as diretrizes liberais de seu próprio partido, o Partido Liberal. Mesmo sendo cria das elites hondurenhas, Zelaya iniciou projetos de cunho popular, ganhando grande respaldo entre os desfavorecidos de seu país. Em 2008, Honduras aderiu definitivamente à ALBA (Alternativa Bolivariana para nossa América), aliança político-econômica criada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez.

A ALBA foi criada há alguns anos atrás em resposta ao projeto estadunidense da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), projeto que criaria uma zona de livre comércio no continente, o que acarretaria em um desastroso quadro para as economias latino-americanas. Em contra partida, a ALBA se constitui em uma alternativa dentro da realidade latino-americana, onde as trocas comercias são realizadas de acordo com as necessidades de cada nação. No caso hondurenho, o país exporta alimentos e recebe petróleo venezuelano abaixo do preço de mercado, além de ajuda médica e educacional cubana. Além de Venezuela, Cuba e Honduras, também aderiram à ALBA Nicarágua, Equador, Bolívia, Dominica, Antigua e Barbuda e São Vicente e Granadinas, além de dois países observadores, Granada e Paraguai.

O golpe realizado em 28 de junho ocorreu devido à proposta do presidente Zelaya em realizar um referendo. O povo escolheria, no dia em que o golpe foi dado, se as eleições de novembro teriam uma quarta urna, perguntando aos hondurenhos se eles concordariam com a convocação de uma Assembleia Constituinte.


Resistência popular ao golpe contra a polícia

Ou seja, o golpe foi dado sobre um referendo que consultaria a população sobre a realização de outro referendo (!). Dias antes do golpe, os militares sumiram com as urnas da votação, que somente foram recuperadas quando Zelaya marchou com partidários até o local onde as urnas se encontravam. A conservadora Corte Eleitoral do país declarou o plebiscito ilegal, assim como boa parte do legislativo se manifestou contra.

É inconcebível que, em um pretenso regime democrático, um plebiscito seja ilegal. O que será que a elite hondurenha (representado por empresários, militares, igreja católica e evangélica que apoiaram o golpe) tanto teme em uma possível mudança na constituição? Com certeza, o olhar dos que detém o poder está dividido entra as mudanças propostas por Zelaya e o quadro em que se encontra a América Latina, onde governos de esquerda, como na Venezuela e na Bolívia estão mudando radicalmente as estruturas sociais.
Manifestantes bloqueiam as ruas

O golpe foi internacionalmente condenado, nenhum país reconheceu o governo empossado em 28 de junho, nem mesmo a máquina de fazer golpes na América Latina chamada Estados Unidos da América. No entanto, a posição norte-americana se mostra de maneira dúbia. Enquanto Obama diz que só reconhece Zelaya como presidente, indícios de que elementos diplomáticos e militares estadunidenses com conexões ao partido republicano estão ligados ao golpe começam a aparecer. Além do mais, uma roda de imprensa para os golpistas nos E.U.A. foi montada por ninguém menos que John Macain, ex-adversário de Obama à casa branca.

A Secretária de Estado norte-americana, Hilary Clinton, nomeou o presidente da Costa Rica, Oscar Árias, para mediar a situação entre Zelaya e os golpistas, contudo as partes não chegaram a um acordo. Árias propôs que Zelaya fosse reposto, mas que abandonasse a ideia do plebiscito e ainda anistiasse os golpistas, em uma manobra para retirar os poderes do presidente de direito.

A situação em Honduras é preocupante. Os movimentos sociais se posicionaram todos contra o golpe e promovem diários protestos pacíficos contra os golpistas. Por sua vez, os militares e a polícia parecem apoiar fortemente Roberto Micheletti, parlamentar empossado como presidente interino e acusado de ter relações com o tráfico de drogas.

Há nitidamente um corte de classe no caso hondurenho. Centrais sindicais, movimentos de trabalhadores rurais e estudantes se posicionaram contra o golpe. Do outro lado, empresários, o Estado maior do exército, a igreja católica e algumas evangélicas, além dos meios de comunicação. Os canais de TV hondurenhos durante vários dias exibiam desenhos animados ao invés do que acontecia nas ruas. Rádios de oposição foram fechadas pelos golpistas.

A resistência popular se dá por meio de greves gerais, fechamento de estradas e passeatas pelas ruas das principais cidades hondurenhas. Os meios de comunicação já foram censurados e trabalhadores grevistas são ameaçados de demissão. O não respaldo internacional também mina os golpistas: a Venezuela já cortou o petróleo, os bancos de desenvolvimento da América Latina e da União Europeia também interromperam o repasse de verbas que são cruciais para o funcionamento do país. Mesmo assim, os golpistas não largam o osso e parecem dispostos a levar a nação à bancarrota total. Ao que parece, até empresas com a NIKE e a ADIDAS já pediram a volta de Zelaya e uma ação mais enfática dos Estados Unidos.
http://www.publico.es/internacional/241816/huelgas/acorralan/golpistas/hondurenos

A repressão cresce sobre os manifestantes cada dia mais numerosos e a situação em Honduras parece se encaminhar para o colapso. A pergunta que fica é até quando a América Latina será impedida de trilhar seu próprio caminho? Fomos “presenteados” com golpes militares pelos Estados Unidos e nossas elites entreguistas durante a guerra fria. Agora que uma nova alternativa aparece em nosso horizonte, está já é a segunda tentativa de golpe (Chávez sofreu um em 2002, mas retornou literalmente nos braços do povo), sem contar a ideia transloucada de repartir a Bolívia devido à vitória de Evo Morales. Será que mais uma vez ficaremos reféns de quarteladas?

Para um resumo do porquê do golpe http://www.rebelion.org/noticia.php?id=89600. Para uma cobertura midiática diferente daquela vista na rede globo e afins, acesse http://www.telesurtv.net/index.php ou www.rebelion.org.

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