Nota em repúdio ao racismo cometido contra o atleta Tinga:
Na ultima quarta-feira (12/02/2014), na partida contra o Real Garcilaso, realizada no Peru pela Copa Libertadores da América, o meio-campista do Cruzeiro Esporte Clube, Tinga, foi vitima de um racismo escancarado: Quando tocava na bola, sons que imitavam um macaco ecoavam pela arquibancada. O referido jogador, ao final da partida, afirmou : “Eu queria não ganhar todos os títulos da minha carreira e ganhar o título contra o preconceito contra esses atos racistas. Trocaria por um mundo com igualdade entre todas as raças e classes”. Infelizmente, essa mazela enraizada na sociedade de classes, também se amplia ao futebol.
Infortunadamente, o futebol, desde sua gênese em fins do século XIX, foi acompanhado pelo racismo e pela segregação de um grupo de pessoas que desejavam participar do esporte. No futebol brasileiro isso não foi diferente. Desde a exclusão de atletas negros para convocações da seleção brasileira nos anos 20, com a prerrogativa de que a nação brasileira não poderia ser identificada por “pessoas de cor”, até os xingamentos proferidos contra o atleta do Cruzeiro, os negros sempre foram alvos de preconceito no meio futebolístico.
No futebol brasileiro, as evidências mais descaradas de racismo foram durante o período de tensão envolvendo o profissionalismo e o amadorismo, muito porque, e até de maneira contraditória, esse histórico momento de ruptura foi marcado pela entrada de negros e de atletas oriundos das camadas mais baixas da sociedade, fazendo até então com que o esporte de identificação social da Elite, se pintasse de negro e de pobre.
Falar de futebol e racismo e não citar dois exemplos categóricos é tornar qualquer tentativa de análise da temática incompleta. O primeiro desses exemplos é a atitude histórica realizada pelo Club de Regatas Vasco da Gama. No ano de 1923, o clube da Colina Histórica contando com 12 jogadores que não correspondiam aos anseios de sportman da elite carioca, representada, principalmente, pelo Fluminense Football Club, vence o campeonato carioca e promove um rebuliço nas estruturas hegemônicas do futebol carioca.
A reação não demorou a chegar e, no ano seguinte, após uma articulação política envolvendo principalmente Pollo, dirigente do Fluminense, a AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Athleticos) é criada e o Vasco se vê expulso e impedido de jogar na associação. É quase unanimidade entre historiadores, exceto por Antonio Jorge Soares e sua visão obsoleta de história, que a discussão estava além do profissionalismo e do amadorismo, era também uma questão de identidade social de uma elite entrincheirada com o avanço dos negros no futebol; era uma questão de classe e racismo.
Frente a isso, o CRVG, através do seu presidente José Augusto Prestes, emite uma carta histórica comunicando que, em defesa dos seus atletas, desistiria de participar da AMEA.
Outro exemplo que merece destaque é a resistência de atletas, como por exemplo, o fenômeno Leônidas da Silva. Nesta conjuntura adversa, o diamante negro, claramente reconhecido e autointitulado como boleiro, termo esse utilizado em oposição ao sportman, com sua resistência e habilidade virou ícone e representava uma tensão e uma critica ao modelo inglês de futebol que a elite apreciava.
Leônidas da Silva era mais que um jogador, era um craque. Apresentando um futebol popular e divertido, o nosso querido ídolo e atleta limpava os gramados do racismo e conservadorismo, contribuindo, cada vez mais, para que o futebol apresentasse uma feição mais brasileira.
Nesse sentido, o CAHIS-UERJ presta sua solidariedade ao atleta do Cruzeiro e repudia veementemente qualquer manifestação de racismo em práticas desportivas. Além disso, exaltamos e torcemos para que apareçam mais figuras históricas e de resistência, como o Club de Regatas Vasco da Gama , como o atleta cruzeirense Tinga e o grandioso boleiro Leônidas da Silva que exerceram uma critica e uma resistência frente ao racismo e ao conservadorismo no futebol brasileiro.
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