Texto de Gabriel Siqueira, ex-membro do CAHIS e formando da UERJ.
Amigos UERJIANOS, segue o último texto que escrevo na condição de diretor do Centro Acadêmico de História – CAHIS UERJ. Não se trata de uma carta de despedida, pelo contrário, é uma mensagem de amor no tempo presente, correndo risco de parecer piegas (Como disse Che Guevara). Aliás, o título desse texto é uma bela frase do Che:
“O socialismo é a ciência do exemplo”. Não poderia deixar de escrever algumas linhas que abraçassem todos aqueles companheir@s que tiveram ao meu lado nesses anos de luta, vitórias e algumas derrotas previstas. Em resumo, este texto é um abraço fervoroso e revolucionário em todos os estudantes de história, funcionários e professores
(POUCOS!) dessa nossa UERJ. Porém, está claro que esses abraços vão tocar mais fundo em alguns. Além disso, peço desculpas aos leitores que esperam ver um texto correto, limpo e imparcial. Primeiro porque tenho graves problemas ligados à formação instrumental da língua portuguesa, além de usar tempos verbais no singular e plural, poderá parecer ambiguidade, mas a palavra correta é dialética. Por último, deixo claro que meu texto é totalmente parcial, panfletário e militante, afinal o velho Darcy já dizia:
“... não se iluda comigo, leitor. Além de antropólogo, sou um homem de fé e de partido. Faço política e faço ciência movido por razões éticas e por um profundo patriotismo.”
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Palestra sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) |
Nesses anos de UERJ, apreendi verdadeiramente dentro do Centro Acadêmico, pois lá encontrei o diferencial, isto é, o alinhamento não hierárquico da teoria e a prática. Foram muitas palestras que serviram de ferramentas para a luta nas ocupações, conselhos, assembleias, etc.
Esclareço ainda que todas essas lutas e vitórias advêm da força de cada irmão e irmã que bateram em nossas costas no corredor, daqueles que tiveram a audácia de discordar dos professores, de outros que foram às palestras juntar argumentos para discutir na sala de aula e de muitos que sempre fizeram questão de encostar os seus ombros nos nossos para a batalha de cada dia. Foram histórias demais, histórias que a História qualquer dia contará.
Tivemos muito orgulho em caminhar pela esquerda nesses anos todos de UERJ e não ceder um milímetro. Mais uma vez tenho que parafrasear o Comandante Che Guevara: “Somos sim radicais, quem gosta muito da palavra moderado são os agentes da colônia”. Fiz muita força para que o nosso curso e a UERJ dessem certo, fiz mais força do que pude e tive. Por isso, viemos nos apoiando em cada vez mais camaradas e este ano em 218 iguais.
Contudo, o caminho nem sempre foi florido, pois percorremos muitas vezes “uma trilha estreita em meio à selva triste.” A coerência sempre teve seu bônus e ônus. Nós pagamos o preço dela em diversas situações, principalmente no duelo que travamos com aqueles professores que não cumprem sua função de servidores públicos, muito menos a de intelectuais no país da fome e da desigualdade.
Fui ou fomos sim perseguidos, processados, xingados, achincalhados, desmerecidos por esses falsos professores que denunciamos. Aqueles que viviam gozando do dinheiro público trataram logo de nos difamar e perseguir onde puderam.
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Palestra sobre cotas - C. E. Visconde Cairú |
Quem ideologiza o nosso discurso são os setores privilegiados que sempre sugaram nossa UERJ e, em linhas gerais, o Brasil. O preço da coerência é alto, meus amigos. Hoje pagamos por ele com juros e à vista. Fui e fomos reprovados no tal mestrado da UERJ, conhecido como
mestradinho das comadres. Lá mandam quatro ou cinco senhoras brancas que nunca andaram de ônibus, sentiram fome, pagaram aluguéis, sobretudo que cruzam o túnel apenas para vir a UERJ. O mestradinho de conceito quatro é dessas quatro senhoras que prefere, sem dúvida, ficar do lado de lá do túnel a aturar o hálito dos cotistas e favelados dessa UERJ que não é mais tão parecida com a Europa. Se até o curso de direito se diz Congo, imagine o resto.Alegro-me de saber que essa UERJ, hoje, é mais nossa do que desses poucos que ainda choram de saudade dos generais e da hierarquia do título, da classe e da cor.
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Faixa do Centro Acadêmico em solidariedade aos estudantes perseguidos. |
Reafirmo que faríamos tudo de novo e talvez com mais força. Se esse é o preço que temos a pagar, vamos lutar pelas cadeiras, mesas, ar-condicionado, pelo novo currículo e Instituto de História 365 vezes por ano. Agradeço aos colegas que quase não conheci, mas fizeram questão de me desejar força e de apoiar luta que é nossa. Aos companheiros de história não dedicamos nenhum minuto de silêncio, mas toda nossa vida de luta.
“PORQUE O GUERREIRO DE FÉ NUNCA GELA,
NÃO AGRADA O INJUSTO, E NÃO AMARELA,
O REI DOS REIS, FOI TRAÍDO, E SANGROU NESSA TERRA, MAS MORRER COMO UM HOMEM É O PRÊMIO DA GUERRA,
MAIS Ó,
CONFORME FOR, SE PRECISÁ, AFOGAR NO PRÓPRIO SANGUE ASSIM SERÁ,
NOSSO ESPÍRITO É IMORTAL, SANGUE DO MEU SANGUE,
ENTRE O CORTE DA ESPADA E O PERFUME DA ROSA,
SEM MENÇÃO HONROSA, SEM MASSAGEM
A VIDA É LOKA NEGO,
E NELA EU TO DE PASSAGEM.”
Mano Brown
Gabriel Siqueira