Todo currículo, enquanto conjunto de conhecimentos, metodologias e práticas destinadas a transmitir e gerar conhecimentos a partir de uma determinada instituição de ensino é criado sob certas relações sociais e, portanto, é um espaço de contradições e disputas políticas e ideológicas. Os currículos de graduação de uma universidade e, o que mais nos interessa, o currículo do curso de História da UERJ, é, como dito, uma escolha política e também pedagógica, passível de críticas, elogios e reformulações.
Historicamente, é preciso dizer, o currículo do nosso curso foi construído pelos professores do departamento com pouca ou nenhuma participação dos sujeitos a quem se destina diretamente esse conjunto de conhecimentos produzidos, nós, alunos. Não é especificidade do departamento, muito menos da nossa universidade essa realidade. Apesar das relações políticas e pedagógicas no ambiente universitário tenderem historicamente a uma participação estudantil efetiva (não sem grandes custos e retrocessos), espaços existem onde a hegemonia do corpo docente é quase intocável, tal são os currículos, a criação de cursos novos, a formulação do orçamento, por exemplo.
Fato é que existe uma concepção política por trás dessa realidade: os alunos são receptores do conhecimento produzido na academia, e esta concepção é reforçada pelas práticas restritivas impostas pelo modelo de pós-graduação vigente, nos quais são considerados pensadores e, portanto capazes de propor, somente aqueles que atingem um determinado grau na hierarquia acadêmica, os doutores e seus pares.
Não é por acaso que estudantes de graduação ao colocarem os limites do currículo e afirmarem seu esgotamento histórico, geram tanta polêmica e resistência por parte do corpo docente. Será que a universidade não deve ser um espaço de democracia real, não apenas na escolha dos representantes legais, mas também na formulação do conhecimento acadêmico/científico? Será que os estudantes, aqueles a quem se destina o currículo, também não devem ser aqueles que o fazerem?
Produzir conhecimento não é um ato de imposição, pelo contrário é uma prática dialética e que requer diálogos, debates, contestações só possível de ser feita a contento com a necessária liberdade de expressão seja entre alunos, entre alunos e professores, seja na construção do currículo.